Lendo a Essência de Ana Carolina.
- © by ysaflor

- 9 de fev. de 2020
- 10 min de leitura
Atualizado: 9 de set. de 2021
A escritora Ysa Flor recupera suas lembranças de sua vida em um paralelo não muito distante daqui. Lá, ela é a filha de Ana Carolina. Ysa descreve a maternidade de Ana de uma maneira surpreendente e apaixonante, e consegue captar a essência dela de uma maneira nunca vista antes. Ysa e Ana juntas escrevem Ruido Preto e Branco, que também está presente em algumas páginas desse livro impactante, que traz expansão de consciência e reflexões de auto nível. Você vai rir, chorar e se emocionar lendo esse livro. A questão aqui não é se você acredita, mas se você consegue ver o outro lado. Não apenas leia, Sinta! Nada é por acaso - Bem vindo a Serendipity! (Esse aqui é um dos capítulos. Download gratuito do livro no site: www.oportaldoamor.com

Chegamos na empresa, e o boato era a filha da Ana.
“Nossa, ela se maquia às 8 da manhã.”
“E nem são oito ainda, são 7:40.”
“Que cabelo brilhante, qual shampoo será que ela usa?”
“A make dela é perfeita.”
“Só acho que não precisava desse salto alto todo. Pra que, se a gente pode trabalhar de tênis?”
“Êta, Camila, ela é filha da chefa, não vai andar de qualquer jeito.”
“Cara de patricinha.”
“Pra mim ela tem cara de mulher decidida, que manda na porra toda.”
“Sai pra lá, Danilo, você ta babando em cima dela a semana toda.”
“Como ela consegue ficar mais bonita a cada dia?”
“Você viu as roupas dela, como são monocromáticas? Tudo combinando?”
“E esse scarpin?”
“Nossa, essa não é a morena, ex- assistente de Ana que tinha saído da empresa?”
“Claro que não, Manoela. A outra era morena.”
“Estranho... Eu jamais confundiria o scarpin dela. Se não for, parece muito.”
“Nossa, Ana, tô sendo bombardeada, isso é o que dá você andar vestida com camisa de bofe embaixo do terno. As pessoas acham que tenho que me vestir como você. Coragem, viu Ana Carolina, sair de casa sem uma make.”
“Ysa, hoje não tava afim. Peguei meu óculos escuro e aqui estou. “
“Agora tá todo mundo me julgando fútil.” “Pare de fazer leitura labial e ler a postura corporal das pessoas.”
“Kkkkkkkkk, jamais!”
"Fica tranquila, Ysa. É só você abrir a boca e falar duas palavrinhas que a impressão da fútil cai por terra. Você tem muito tempo que não aparece por aqui, e seu visual está totalmente novo, é normal que as pessoas estranhem. Também tem funcionários novos.”
“Ana, pra que tanta gente pra fazer tão pouca coisa?”
“Porque nenhum deles conseguem ser 17, é por isso que te invejam. Acho melhor você andar com um raminho de arruda na bolsa.”
“Ai, Ana, você acha que isso me abala? Eu quero que minha bunda cresça pra eu fazer um strip-tease pra um moreninho gostoso.”
“Ysa Flor, pare de falar do seu irmão assim.”
“Que irmão o que, Ana? Nem fomo criados juntos, eu nem sabia que tinha irmão, e aos 22 anos descubro que tenho um amor proibido. Que triste, Ana. Você já pensou se a gente se apaixonasse à primeira vista e fosse pra cama? E se eu engravidasse dele? Queria ver você dizer na cara da sociedade que somos irmãos.”
“Você não transa na primeira saída, Ysa.”
“Se eu tiver apaixonada claro que transo, e bem gostoso.”
“Ysa, você é terrível! Não vou nem ligar.”
“Ah, não? E por que tá tremendo essa perninha? Kkkkkkkkkk, ai Ana, adoro quando você perde a linha de base. Você fica nervosinha e contida, não explode igual a mim.”
“Por que sou de terra, Ysa, e você podia ter menos fogo em seu mapa.”
“Adoro ser de fogo”.
“Que mistura terrível, Ysa. Sagitário com Leão, exibicionismo puro.”
“Não tenho culpa se deus me fez brilhante, e não é oleosidade igual sua testa. Vem aqui, vou consertar isso”, falei puxando meu pó compacto da bolsa.
“Ai, Ysa, não quero.”
“Agora eu cuido da sua imagem, esqueceu?”
“Mas não vou aparecer na TV.”
"Ana Carolina Souza Toledo. Você tá proibida de sair de casa nessas condições. Se duvidar, vou te maquiar enquanto dorme.”
“Meu deus, Ysa, quanto pó.”
“Espera, vou esfumar. Agora só um gloss, por favor. Pronto, olha a diferença, Ana. Pra quem perguntar, já sabe a resposta, né? Põe a mãozinha no queixo, dá uma piscadinha e fala: "Nasci Assim!" Se olha no espelho”, falei virando ela pra parede de espelho do nosso lado. “Nossa, que pele de porcelana, o que fez?”
“Pó e água termal, meu amor. Depois te ensino esse truque.”
“Amei.”
“Para de se alisar o rosto e volta pra terra. Senta aqui, temos que decidir sobre esse relatório juntas. Ana, tira a mão do rosto. Se concentra!”
“Ysa, hoje é o dia da sua primeira reunião com a nova equipe. Tô louca pra ver a cara deles quando você abrir a boca, toda intelectual, e colocar o currículo deles de anos de faculdade pra virar pano de chão.”
“Kkkk, ai, Ana, você é má, fica só assistindo de camarote.”
“Ysa, o bicho pega quando você entra em cena. Por que aquela ali se acha a cú de ferro da empresa”, falou ela apontando disfarçadamente pra Manoela.”
“O que é isso, Ana, Cu de ferro?
“CDF, teve adolescência não?”
“Kkkkk, deve ser coisa do seu tempo, Ana.”
“Pare de me chamar de velha.”
“Vou chamar até o dia que você não ligar mais, aí a graça acaba, kkkkkk.”
“Seu planejamento tá perfeito, como tudo o que você faz. Você tem total autonomia aqui dentro, Ysa.”
“Eu sei, Ana, mas quero que tudo passe por sua aprovação antes. Tira o foco da sua filha e da Ysa perfeitinha que você projetou em mim, o que significa que é espelhamento. Se você me vê assim, você também é assim. E volta pra razão, vem pro lado direito.”
“Tô totalmente racional.”
“E esse olhinho brilhando, ai?”
“Você fala as coisas mais lindas que já ouvi.”
“Mãe babona.”
“Vamos.”
“Pensei em apostar em um briefing diferente pra essa nova chamada, Ana. Tá tudo muito igual aos outros anos. Tipo, tá lindo, nada contra, mas é que fica cansativo. Você é uma pessoa de fases, está sempre em movimento. Você hoje tá sem salto, amanhã você tá de salto e vestido. Você tá de camisa masculina hoje, amanhã você tá vestida como uma flor. Gloss em um dia, batom e cílios postiços em outro. Tem dias que você é tempestade, e tem dias que você é brisa. Sabe, o seu briefing não tá em sintonia com quem você é. Você não precisa de algo que defina você, porque isso já é bem forte em sua personalidade. Por exemplo, eu lembro automaticamente de você quando pego um violão, é isso, mas não preciso colocar você com um violão nessa foto. Que tal brincar com as letras e fazer uma arte? As curvas dela podem ter um violão, as pessoas que estiverem conectadas com sua essência vão fazer a associação rápido. Você é o tipo de artista que não precisa ter apelo emocional. Então, essa chamada aqui a gente risca porque tá totalmente apelativa. Vamos focar nas várias faces de um mulher dona de si. É sobre isso a capa do seu novo álbum. Então esquece imagem desfocada, é hora de ter foco e aparecer nos holofotes, cheia de presença. Nada de enquadramento, porque também foge a regra de quem você é. Você nunca é a mesma todos os dias. Achei a imagem, estática paradinha demais pra alguém que tá sempre em movimento como você, entende? Essa aqui tem que ser harmônica, mas não pragmática. Quem fez isso aqui não te conhece nem um pouco, fez usando a imagem social que pressupõe, aquilo que ele ou ela idealizou que você fosse. Talvez quem tá chegando agora e não conheça a sua essência até engula isso aqui, mas seus fãs que te acompanham há um século não vão cair nessa de inovação, porque de inovação isso aqui não tem nada... O que foi, Ana Carolina? Fecha a boca.”
“Tô chocada, menina, parece que você é formada em todas as áreas dessa empresa. Vem comigo agora, a reunião começou e você vai dizer a eles lá na frente, em cima desse salto alto empoderador, tudo que me disse agora.”
“Ana, a reunião é só daqui a 10 minutos."
“Não, vai ser agora!”
Ela saiu me arrastando pelo braço com a pasta nas mãos e deu um assobio que me deixou surda.
“Equipe, reunião, agora!”
“Ana Carolina, precisava essa agressividade? Tô surda, ai, pra que existe interfone?”
“A ética aqui dentro só funciona com você, Ysa.”
“Kkkkkkk, louca!”
“Se posicione.”
“Ana, não posso fazer isso. Eles passaram a semana toda trabalhando nesse projeto.”
“E você passou o olho em 10 minutos e lançou um novo projeto, coloca eles pra trabalhar,Ysa.”
“Ana, a chefe é você.”
“Mas minha assistente é você, lembra? Você fala, e eu só concordo ou discordo.”
“Ana, você gosta de me ver na linha de fogo. Esse povo novo vai me odiar.”
“Faz parte de te conhecer, Ysa. Eles te odeiam pra depois te amarem.”
“Meu deus, Ana, você nem me deu tempo e me coloca em cada saia justa, só estávamos conversando.”
“E eu bati o martelo. Vá lá na frente e faça o que você sabe fazer de melhor. Danilo, coloca o briefing na tela que a Ysa tem algumas observações a fazer.”
“Prontinho, Ysa.”
“Bom dia! Por favor, peguem o esqueleto do projeto vocês. Se precisar, gravem, porque não gosto de repetições. Vocês passaram a semana toda trabalhando nesse projeto, e eu preferiria que, ao mesmo tempo em que fossem construindo, vocês mandassem o arquivo para Ana e eu irmos acompanhando a evolução. Mas ao invés de trabalhar em equipe, o que vocês fizeram? Trabalharam de forma individual, cada um fez sua parte e no final fez a junção. Vocês não estão mais na faculdade. Aqui é uma empresa onde se quiser entrar em cena, tem que vestir a camisa. Eu não aceito nada que no mínimo não seja perfeito. Se eu quisesse esse resultado, contrataria estagiários e não profissionais. Deixaram a desejar na imagem estética. Está desfocada e não deram vida à essência da Ana, que era o que mais importava aqui. Ela tá apagada, e o brilho dela nessa capa é fundamental. Fizeram as composições de cores totalmente aleatórias, e esse era o segredo para destaca-la. O briefing não precisa combinar com as letras, mas sim estar em harmonia com a essência dela, o que é totalmente diferente. A imagem da Ana Carolina que vocês construíram aqui não é a mesma que eu e milhares de fãs conhecem.”
Manuela levantou a mão.
“Mas Ysa, a Ana pediu para inovar.”
“Você chama isso de inovação, Manuela? Apelo para a sexualidade dela nunca foi inovação, o mundo inteiro sabe que Ana é bi, você não precisa esfregar isso na cara deles. A Ana é muito mais que um estereótipo ou a sexualidade dela, então esse apelo chama o público gay, beleza, mas os outros se sentirão excluídos, e a Ana é inclusão. A Ana Carolina é o rompimento dessa bolha entre o certo e o errado, entre a fé e a religião, entre a dúvida e a certeza. Ela é o paradoxo que trás consciência a ponto de fazer cada um estourar a sua própria bolha e olhar pro outro como ser humano, parte da mesma criação.”
Todos aplaudiram. O Bruno começou a chorar.
“Ana, podíamos levar ela para um teatro agora. Ana, você já imaginou vocês duas em uma novela da globo?”
“Kkkkkk, cala a boca, Bruno, deixa ela falar.”
“Bem, acho que não preciso dizer que tá tudo muito padronizado, parado e sem a essência da Ana. Sugiro que mudem a arte das letras para algo que, quando as pessoas baterem o olho vão se conectar a ela.”
“Um violão, talvez?”
“Isso, Danilo, agora você se conectou com o que estou falando. Sugiro que façam uma reunião entre sim, mecham nessa arte e deem vida ao projeto.”
“Mas, Ysa, deu um trabalhão, gastamos a semana toda mexendo com isso, vamos jogar todo projeto no lixo, pelo que você tá falando, pra recomeçar do zero.”
“Bem vinda ao mundo empresarial, querida. Você prefere lançar isso assim? Você não entendeu que isso aí não é a Ana ou quer que eu desenhe? Talvez você esteja tentando criar um clone bem chulo dela, me desculpem a expressão. Mas se querem trabalhar aqui, vão ter que se envolver, se entregar, se conectar a essência e deixar fluir. Não existe limitações para a arte, ou qualquer um pintaria um quadro e conseguiria mostrar o outro lado. O trabalho de vocês é arte. Se dediquem e usem mais as emoções. Sintam! E por favor, dessa vez trabalhem juntos, em equipe, e lembre-se que eu e Ana fazemos parte dessa equipe. Se tivessem pedido ajuda não teriam que rasgar o projeto inteiro e recomeçar do zero. Só lembrem que não têm mais uma semana, agora são 3 dias. Amanhã as 16 hs quero a prévia em minha mesa. Vou dar uma passada aqui pra ver como andam as coisas.”
“Mas, Ysa, três dias é pouco tempo.”
“Vou deixar umas anotações para inspirarem vocês. Eu faço em 30 minutos.”
“Por que ela não faz, então?”
“Manuela, você quer falar em voz alta o que verbalizou no ouvido do colega?”
“Não falei nada.”
“Ok. Não preciso, mas vou responder sua pergunta: Não faço porque a Ana Carolina paga uma equipe, no caso vocês, para fazerem. Mas no dia que ela quiser me passar o cargo eu aceito com todo mérito, e desbanco todos vocês em um piscar de olhos.” “Iiiiiiii, podia dormir sem essa, Manuela!”, Bruno falou.
“Ana, alguma observação?”
“Adorei sua abordagem, Ysa, e acho que você tá coberta de razão. Apoio e assino embaixo.
Então, equipe, não quero reclamações. Vocês sabem que sou perfeccionista, e a Ysa também. Vocês não vão agradar mostrando qualquer coisa, nos surpreenda. A reunião está encerrada, podem ir.”
“Obrigada, e bom trabalho, pessoal.” Todos saíram, e Ana falou:
“Toca aqui, Ysa, você arrasa. Eu não teria metade da sua coragem.”
“Por isso eu meto a mão e eu mesma faço, porque odeio depender de alguém. Ana, você sabe que pode demitir todo mundo, e nós duas damos conta, né?”
“Não, Ysa, a vida é bem mais que trabalho, a gente vive pra que? Eles são pago pra isso e precisam dar o melhor. Você é nova, e fico preocupada com o tanto de responsabilidade que você dá conta. Você precisa viajar, sair, curtir esse mundo enquanto tá nele. Vê se vou ficar te enchendo de carga desnecessária?”
“Ana, eu gosto de trabalhar.”
“Isso é compulsão, Ysa. Quando você tiver outras prioridades, como um grande amor, o trabalho se torna secundário. Você vai ver quando casar, tiver filhos, e eu vou ser a vó mais babona do universo inteiro.”
“Para, Ana, quando eu casar e tiver filhos não vou me aposentar, não. Vou dar conta da casa, do marido, dos filhos, de você e ainda vou ter tempo livre .”
“Você não tem explicação, Ysa. Eu tento mas não consigo. Vamos almoçar?”
“Já?”
“11:55”
“Nossa, Ana, tenho que almoçar e correr pra aula.”
“Não vai passar mal não, menina?”
“Não. Vou comer uma coisa leve.”
“E a sobremesa?”
“Com certeza! É bom que queimo as calorias. Hoje só vai dar eu e Bruno naquela academia.”
“Primeira aula e já tá nessa confiança toda?”
“Essa sou eu, Aninha. Sem confiança não chegamos a lugar nenhum.”
“Vivendo e aprendendo com você, Ysa Flor.”
“Você que é minha mestra, Ana. Vamos que não posso atrasar.”
“Ok, vamos!” ______________________________
by Ysa Flor
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