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Capítulo 6, parágrafo 17

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A noite passada na boate rendeu. O meu ex- colega de trabalho, que por coincidência se chamava Marcos, resolveu me fazer uma visita surpresa na boate e, advinha quem não gostou nada dessa surpresa?  Markus Toledo. E vocês podem imaginar o que aconteceu, né?

— Ysa, preciso falar com você.

— Sobre?

— A gente.

— Tô de saída, Markus.

— Ysa, não faz isso! Vamos conversar, vai...

— Eu sou muito intensa, Markus. Não foi isso que você disse ao Mateus?

— Ysa, eu não falei de forma negativa. Talvez ele não tenha entendido o que eu quis dizer, mas eu tava falando de ser intensa pelo lado bom... Olha pra mim, por favor...

— Depois de ontem a noite você consegue me encarar de frente, Markus?

Parei de passar o batom, encarando dentro dos olhos dele.

— Consigo — falou ele imediatamente, sem titubear.

— Bem, era isso que eu queria ouvir. E já que você consegue, pode olhar.

Coloquei o batom dentro da bolsa e sentei de frente pra ele.

— Olhe nos meus olhos e só me fale aquilo que você estiver preparado pra lidar. Porque hoje vamos ter uma conversa definitiva e, se eu sair por aquela porta, eu não volto mais. Existem três situações aqui, Markus. Desculpa se você não sabe fazer perícia, mas no meu trabalho a gente tem que montar várias estratégias e aprender a ver vários ângulos, e não só aquele que nos convém. Eu não posso só olhar pro que eu quero, eu preciso saber o que eu quero, sim, mas saber o que você chama de certeza faz toda a diferença. Eu sei o que quero, e quando eu quero algo, eu quero de verdade. E você, Markus, você sabe o que quer?

—Eu so quero você.

— Markus, eu nunca tive medos tão bobos e sem sentido como os que tenho agora. E o meu maior medo agora é de não estar com medo de nada. O medo é um aviso, um instinto, uma precaução que salva muitas vidas, Markus... Eu vivi a vida inteira com medo de algo, aprendi isso no meu trabalho: o medo te protege. Mas quando você chegou, eu perdi o medo, Markus! E a ausência de medo significa que eu estou correndo risco de vida. Você já parou pra pensar nisso? Você não teria medo se alguém chegasse pra você agora e falasse que você pode perder a vida a qualquer momento? Que você tá pisando em um campo minado sem nenhuma proteção... Você sabe como me apavora me imaginar nas mãos de alguém? Você sabe que sempre foi meu maior orgulho ser dona de mim mesma, e quando compus aquela música "Dona de Mim", eu estava falando exatamente sobre como era empoderador você se pertencer. Eu estava mesmo orgulhosa, Markus! E não estava contando com sua participação especial em minha vida, não dessa forma. Eu nunca me entregaria a alguém por escolha. Nunca! Esse alguém teria que ser muito foda para me invadir sem permissão e atravessar esse campo minado sem proteção alguma, só pelo meu amor. Alguém que não te amasse faria isso por você, Markus?

— Não.

— Mas você fez por mim. E o pior ainda eu não disse: o que me apavora mesmo é me sentir nas mãos de alguém e não estar apavorada, com essa nova possibilidade, que já é real. Markus, onde foram parar meus medos? Em qualquer outro momento, com qualquer outro homem, eu estaria apavorada agora, e com certeza lutando contra tudo isso aqui como sempre fiz, como todos que tentaram se aproximar, só para não entregar as chaves. Você sabe que mesmo gostando, eu sofreria; mesmo sendo louca por alguém, eu faria questão de não admitir. Meu amor-próprio sempre falou mais alto, Markus, depois de tudo que eu passei, a sociedade me moldou assim. Aí você chegou e acessou um ponto proibido sem minha permissão, derrubou todos os muros da minha fortaleza e se transformou em um forte pra mim. Você sabe o que é isso? É como se eu falasse: "Markus, abre a mão e toma, essa é a chave do que eu tenho de mais precioso na vida." Foi o que aconteceu com a gente: você tem todo meu tesouro em suas mãos, você pode me saquear, me roubar, me torturar, mas eu sei que você não vai fazer isso. Assim como eu sei que você jamais seria capaz de sequer fazer uma lágrima do meu rosto cair... E por que eu tenho essa certeza depois de ter sofrido tanto na vida? Não tem como saber por quê, Markus, eu só sinto que é você. Sabe quando você sabe que ama alguém de verdade e não é o mesmo amor que você conhecia antes? É diferente de tudo que eu já tive acesso. Não é um tipo de amor que eu tenho controle, que digo até que ponto pode ou deve ir. Esse aqui não entende barreiras ou limites. E quando isso aqui acontece, quando todos os seus medos se tornam bobos e passam a não fazer sentido algum, quando seu orgulho é quebrado, quando você não liga pro que as pessoas falam, quando você tá totalmente consciente de quem você é na vida do outro — sem que o outro precise falar nada, provar nada... V

ocê entende o que é o amor. Quando ele se torna tão simples que desata todos os seus nós, e foi isso que você fez por onde passou aqui dentro, Markus. Você desatou todos meus nós e os transformou em laços. Você desbravou meu coração e todos meus impossíveis se tornaram possíveis. Aí você entende o que é o amor quando entrega a chave da sua vida nas mãos de alguém — não só porque você confia, mas porque você tem certeza que esse alguém pode te acessar e entrar em sua vida mesmo sem as chaves. Foda-se a chave. Você abriu todos os meus cadeados, sem precisar de chave, e a minha segunda verificação de segurança... você decodificou todas as senhas só olhando em meus olhos. Depois que você passou e ficou, Markus, todos foram embora, mas você ficou, e a minha vida ganhou um novo sentido. Eu descobri a minha existência. — Aquele medo de entregar as chaves de minha casa nas mãos de alguém era só uma autoproteção. Eu tinha medo que alguém entrasse em minha casa, mas eu nem sonhava que já tinha um lar e que já tinha alguém dentro dele. Aquele lugar reservado era seu, e todos os outros lugares por onde passei foram só um abrigo temporário me preparando para sua chegada.  Eu aprendi a me virar sozinha, sem auxílio. Aprendi a me resguardar, a me proteger e a ligar o alerta em qualquer situação de perigo. Mas você foi tão silencioso e me trouxe tanta paz que desativou todos meus alarmes. Mas a minha alma diz que, com você, eu não preciso ligar o alerta, porque você é a minha proteção. Eu não preciso ter medo de te entregar as chaves porque você já decodificou a senha com suas digitais. E a porta se abre sem que você precise bater, toda vez que você chega perto dela. Você tem o sensor que abre meu coração. Eu me sinto única e segura de uma forma indescritível quando estou ao seu lado... Eu jamais me senti assim em outra presença que não fosse a minha. Porque a vida me ensinou de um jeito duro que a única que eu podia confiar era em mim mesma. E isso mudou quando você chegou! Você uniu a sua força às minhas fragilidades e juntos compomos uma força inabalável. Nos tornamos insuperáveis. Nada nos atinge juntos, você já percebeu como é mágico?Eu realmente me sinto uma heroína ao seu lado. E o meu medo bobo, onde caberia agora? Eu tinha medo porque nunca imaginei que o amor seria algo tão simples, tão leve, tão incrível e acessível. Eu sempre tive muitas capas e estava sempre esperando usar alguma delas pra me defender. Mas você rasgou todas com um único olhar. Quando eu fiquei vulnerável, você me abraçou. E você lembra o que me disse aquele dia? Você disse: “Você não precisa mais ser forte sozinha. Eu tô aqui. E nada de ruim pode acontecer se nós dois estivermos juntos.”

— Você entende como algo tão simples pode ser tão complexo? Eu não entendo! E, sinceramente, não sei o que você fez pra me invadir assim. Markus, amar alguém é bem mais simples do que parecia ser, e ao mesmo tempo complexo para o nosso entendimento controlador. Amar, eu já te amava desde antes, desde sempre, desde a época da nossa amizade — e você sabe. O amor não mudou, continua o mesmo. Porém, agora, ainda mais lapidado, ele tem me transformado a cada dia. O amor não quer que você preencha nada. Ele não quer complemento. Ele não quer atenção. Ele não quer ser notado ali. Na verdade, foi a única vez na vida que eu não quis ser notada. Eu queria ser invisível. Hoje eu entendo o que significa a frase escrita na Bíblia: “O amor constrange”. E constrange mesmo, porque o seu amor me revelou a melhor parte de mim. Ele descobriu a minha essência vestida com capas isolantes, e ela não queria que ninguém a tocasse — até você chegar. Foi você que despertou essa flor aqui, Markus. Ela só acordou pra você, porque foi na sua presença que ela se sentiu ela mesma. Ela desabrochou diante dos seus olhos para te presentear, como agradecimento por você ter sido tão parceiro, tão amigo, tão único... Você tem noção das fases que você precisou completar pra isso acontecer? Não, né? Você tem noção do que você teve que passar ou esperar até ela brotar assim? Então não diga que mudei da água pro vinho, e nem que foi do dia pra noite... Foi um processo de transformação, Markus. Mas quando a gente ama, a gente não sente acontecer. Eu era apenas semente, e como o meu Pequeno Príncipe, você teve que me colocar em uma redoma e cuidar de mim. Você teve que me dar comida na boca, me dar água, me aquecer, me abraçar e de todas as formas possíveis... você me cativou. E, usando a linguagem do Pequeno Príncipe: se eu te cativei, foi porque você me cativou primeiro. Você passou por todas as fases e por todo o processo sem sentir, porque você me acolhe, Markus. E quando se ama alguém, a gente faz sem esperar nada em troca. A gente faz sem obrigação. A gente faz só pra ver o sorriso e o brilho no olho do outro — e isso não nos cansa nunca. A gente quer sempre entregar o nosso melhor. Então, antes de pensar que eu sou perfeita pra você, pense que o motivo de eu ter alcançado a perfeição foi a sua dedicação. Todo “trabalho” tem a sua recompensa. E você tá colhendo o que você plantou durante todos esses anos.  Amor é doação sem necessidade de exibição ou cobrança. O amor nunca vai te cobrar nada. E hoje eu entendo Jesus na cruz, morrendo santo e digno. Ele não queria nada... Ali se perdeu totalmente a necessidade de querer algo porque ele já possuía tudo. É assim que eu me sinto hoje, Markus. Me perdi da necessidade de querer ser maior, melhor ou superior... Me perdi do orgulho de não querer admitir meus sentimentos. Me perdi da necessidade de fazer joguinhos... porque, quando se ama alguém, a gente perde todas as capas e máscaras — pois não existe mais a necessidade de possuir. Porque, quando se ama, você já possui tudo. Eu, quando te olho, vejo isso. Eu me vejo em teus olhos — mas não esses aí que qualquer uma pode ver o reflexo. Eu me vejo lá dentro, onde só uma pode ocupar, onde é meu lar, onde tem um espaço vip reservado só pra mim. E eu me sinto tão única que perco totalmente a necessidade de sentir ciúmes. Porque eu sei que você é e será meu por toda a vida e em todas as vidas. Eu não tenho com o que ou com quem competir, Markus. E vou ser a única mulher no mundo inteiro a passar pela sua vida sem competição, porque esse lugar é meu — sempre foi... então não me olhe assim, se você não pode lidar comigo. Eu sou paz e calmaria, mas também posso ser o furacão que chega no meio do nada, capaz de arrumar toda a sua vida em questão de segundos... basta você permitir. Se lembre que toda vez que você olhar em meus olhos, você vai saber o que é ter um lar. Porque eu não sou seu complemento. Não sou sua casa nem seu abrigo temporário. Não quero a chave da tua casa. Eu posso ter quantas casa e copias de chave eu quiser, e quando quiser. Uma casa, qualquer outro homem que tenha o papel que controla essa dimensão pode me dar. Mas tem uma coisa em você, Markus, que nenhum deles, por mais que eles queiram ou tentem, pode me dar. Por mais rico e abençoado que eles sejam... eles não podem me dar... porque essa coisa não se compra no shopping, nem está disponível em uma plataforma de venda ou troca. A aquisição dela acontece única e exclusivamente por conexão. Nenhum outro homem pode me dar o que você pode. Porque o que você pode, só você tem — é único e foi feito sob medida pra mim.  Casa, carro, diamante ou bens materiais, qualquer um conquista ou compra. Mas o que você tem, Markus, nenhum outro tem igual, na mesma proporção. Sua essência é só sua. Ninguém se assemelha, ninguém além de mim toca — e é mais único que sua digital. A sua essência, só eu posso despertar. Ela foi feita para ser compatível a uma única pessoa em meio a 8 bilhões de pessoas no mundo. A sua essência escolheu a minha — e isso é assustador, mas também é mágico. E no dia que você entender isso, você nunca mais vai sequer pensar na possibilidade de que eu possa olhar pra outro homem e sentir algo além de amizade. No dia que você souber a diferença de casa e lar, Markus, a sua cabeça muda e sua vida ganha um novo sentido. Não há espaços vazios entre nós que precisem de complementos, porque você é só você — você é o meu lar. Eu não quero seu dinheiro, uma casa ou um anel de diamante. Nossa aliança é essa tatuagem aqui. Eu só quero você — e só preciso de você.

Respirei fundo, levantei e voltei ao espelho. Me debrucei na pia, acabando de retocar o batom vermelho que ele adorava, enquanto as lágrimas dele caíam em silêncio. Ele as secou e ficou de pé na porta, babando em mim. Ele adorava me ver retocando o batom — não sei se era algum tipo de fetiche, só sei que ele pirava e ficava mordendo os lábios, naquela pegada de “você não sai daqui inteira”…

Ele sabia me enlouquecer sem falar nada.

— Você consegue me falar tudo isso nessa naturalidade toda e acha que vai ficar por isso mesmo?

— Como assim, amor?

— Não falei pra competir. Achei que você ia estar chateada comigo pela cena de ontem. Não foi por mal, eu me descontrolei... me perdoa?

— Primeiro, por que você tá me pedindo desculpa? Preciso saber se é pelo mesmo motivo que acabei de me declarar.

— Pelo meu ciúme. Eu admito que às vezes não entendo os limites.

—  O que acabei de te falar sobre limites? E todos esses anos me controlando pra não reagir e mostrar o quanto adoro sua falta de limite não foi suficiente? Você tá pensando que vou agir como antes? Acha que vou te reaprender e me fazer de doida fingindo que não gosto de te ver naquele estado de loucura? Ah, Markus, você se faz de doido, mas esquece que sou mais doida anda. Os joguinhos que eu fazia para te ensinar o que era o certo e o errado da sociedade não quer dizer que eu concorde. Eu só queria que você não fosse visto por todos como o cara de traços tóxicos, não queria que te rotulassem de abusivo e controlador. As pessoas colocam peso demais onde não deve antes de conhecer o que não podem entender. E eu só fingia estar brava porque queria que você enxergasse além da capa, além do drama. Queria, de fato, que você entendesse que não precisava sentir ciúme porque nenhum homem teria a menor chance perto de você. Eu só tava te mostrando o certo, mas nunca disse que amava o certo. Se você soubesse o tesão que sinto em seu descontrole, você jamais pediria perdão por sentir ciúme. Temos que ter controle sobre nossas emoções, mas não sobre nossos sentimentos. Nunca deixe de ser autêntico, porque amo sua intensidade. E se esse for seu traço tóxico, saiba que eu amo. Deveria te dizer isso? Não sei. Mas se eu não disser, você vai ficar confuso. E eu vou parecer uma bipolar que, numa hora, corrige e, noutra, tá plena, calma e ainda mais convicta do que sinto por você. Acho que sentir ciúmes não é o fim do mundo, desde que não seja o ciúme que desconfia da nossa parceria. Tipo... você acha que eu sou uma pedra insensível e não sinto ciúmes de você? Sinto, mas não é o tipo de ciúme que pode competir com o que eu sei que você sente por mim. Sinto ciúmes de você — já senti diversas vezes, por diversas razões. Mas quando eu olho o que temos aqui, ele se torna tão minúsculo, tão insignificante que não consegue ser páreo pra me desestabilizar, porque eu confio demais no que construímos. Eu sei que não preciso me preocupar, mas nem por isso eu vou te jogar na mão delas de bandeja. O que tenho a dizer sobre ontem é que a forma como você enfrenta o mundo pra me proteger é surreal. Outro homem não serve pra mim, Markus. Se não for você, assim, com sua carga de intensidade, não me serve — porque é assim que eu me sinto amada. Então não se sinta pressionado a mudar. Quem quiser, que mude a maneira de te enxergar. E se quiserem te chamar de tóxico, deixa que chamem. O que importa é que eu sei o homem que eu tenho em casa. Você não deve satisfação a ninguém, nem tem que se comparar a ninguém que pense o contrário. Eu amo sua autenticidade e ponto final.

— Você é imprevisível, Ysa.  Quando eu penso que você vai surtar, você me coloca em um lugar de honra que nem eu sei se mereço. Eu fico de cara com sua  maturidade, com sua segurança, com todo esse diálogo que você faz ser leve e espontâneo. Você me traz leveza, paz... eu não sei expressar a paz que você me traz.  Você me equilibra, Ysa. Eu amei sua sinceridade e amei saber que não te faço mal com minhas atitudes. Porque se um dia elas te incomodarem, eu quero que você fale. É muito louco como as coisas simplesmente fluem entre nós sem crise, sem DR’s. Mulher, de que mundo você veio? Às vezes eu me pergunto se estou acordado ou sonhando, e me dá um medo quando vou dormir — porque se você for um sonho, eu nunca quero acordar. Fico me perguntando se existe alguém real capaz de aceitar o outro de forma integral como você me aceita.

— Ah, Markus, você também não me aceita com todas as minhas imperfeições? Qual a diferença?

— A diferença é que até suas imperfeições são perfeitas — é fácil aceitar.

— E no seu caso, quem disse que é difícil pra mim? Se fosse, eu não diria que amo. Me casei com você inteiro, com todas as suas qualidades e com todos os seus defeitos, Markus Toledo. Não tem volta. Você é meu caminho sem volta, minha perdição. Seu gostoso! — falei apertando o queixo dele e dando um selinho.

— Limpa a boca que ficou marcada com meu batom.

— Você sabe que vou sair assim, né?

— Você é doído.

— Doído por você. Por que você acha que vou limpar isso? Quero mostrar pro mundo que tenho uma mulher maravilhosa que me beija todos os dias e me faz ser o homem mais feliz do mundo em cada detalhe, nos mínimos detalhes que ninguém notaria.

— Ai, que romântico! Você me inspira tanto, sabia? Você me faz querer ser melhor todos os dias.

Olhei pra ele ali parado, com a voz embargada, entregue, e com aquela postura de alfa que me enlouquecia. Eu só conseguia pensar nele sem roupa. Meu Deus! O que ele faz comigo não é normal! “Cala a boca, Ysa Flor, foco, você precisa trabalha Mas se eu for trabalhar pensando na oportunidade perdida, eu não vou trabalhar feliz.

— O que foi? Por que tá me olhando assim? — retrucou ele.

— Nada, Markus! Nada!

— Esse olhar…

— Tem o quê meu olhar,  você não gosta?

— Esse é o problema: eu gosto demais!

— Então se realiza, porque ele é só seu.

Eu adorava ver como a mandíbula marcada dele ganhava forma quando os músculos faciais se contraíam e a pupila dilatava.

— Nossa, Markus, daqui a pouco passo por esse portal!

— Que portal?

— O da sua pupila.

— Foi óbvio assim?

— Nem pergunte.

Ele estava usando uma camisa social branca, uma calça jeans, cinto e sapatos pretos. A camisa entreaberta do jeito que ele sabia que eu adorava. Depois do sucesso do último show, agora ele só me provoca assim. Chega em casa como quem não quer nada — todo dia isso agora — fica passando a porra desse peitoral malhado com a camisa semiaberta na minha cara. Ele sabe que eu não resisto, e por isso, quando estou atrasada, desvio o olhar para não dar corda à imaginação, mas quem disse que ela para?

Olhei pra ele, imaginando que ele estaria mordendo os lábios do jeitinho que sempre fazia, mas só vi lágrimas.

— Marquinhos, você tá chorando?

—  Sem espaço para perguntas e respostas agora.

Ele me puxou pelo braço e me lançou um beijo com toda a sua alma — e esse era, sem dúvidas, o meu lugar favorito. Aquele que não me deixava escolha a não ser me entregar também. Encostada e envolvida pelos braços dele, que me apertava de um jeito… ele era toda minha paz contida em um único abraço. E vocês nunca vão saber o que é isso, antes de sentir.

Era como se eu estivesse anos flutuando e enfim alguém conseguisse me tocar, me puxar e me fixar com os pés no chão dizendo: “Ei, seu lugar é aqui.”

Aquilo me estabilizava porque eu jamais conheci raízes. O meu jeito de enxergar a vida mudou completamente e, de repente, ele curou minha miopia, tirando minhas lentes e dizendo: “Ei, olha para mim.” Eu não precisava mais de óculos porque eu enxergava além toda aquela situação, complicada demais de tão simples.

E depois de um tempo entregue àquela magia do beijo dele e dos braços dele, em pé, me apoiando na parede, eu só me perguntava: isso foi um beijo? Eu fui arrebatada e minha alma ainda não voltou pro corpo.

E todo beijo era mágico, era perfeito, era só nosso… não tinha como sentir a mesma coisa em outra boca que não fosse a dele. Nenhum homem nunca teve tanto poder sobre mim, e aquele espaço era dele e só ele preenchia. Aquele lugar ali nunca foi de outro e isso era tão óbvio quando estávamos juntos. Todo beijo era uma porção diferente e todo abraço tinha gosto de lar. Era conexão de alma com química de corpo. Eu não queria sair daquele abraço nunca mais. E como aquilo mexia comigo, e como aquele aconchego era familiar e não mais me assustava…

E foi assim que a princesinha da favela se viu totalmente entregue. E pela primeira vez, o ego não tava nem aí se iam chamar ela de mulherzinha ou dona de casa. Eu me perguntava pra onde tinha ido meu senso de feminismo empoderado que a sociedade implantou. Meu ego, simplesmente, caiu por terra — e todo aquele papo que rolava nas músicas que eu compus… eita como pagou a língua bonito!

Em meio a lágrimas e beijos, amassos e abraços, onde o encontrar dos nossos olhos provocava mais erupção que o encostar de nossa pele, eu suspirei. Ele me penetrou a alma e rasgou todas as letras das minhas antigas composições ali…

Eu sorri, ele sorriu e disse:

— É, eu sei… você fez o mesmo comigo. Eu só quero uma casa no mato, um cachorro e uma cama pra gente quebrar…

— Deixa de mentir, Markus. Adoramos a natureza, mas somos sociais demais para ter uma casa enfiada no mato — ou estaríamos na fazenda agora.

— É, já temos uma casa no mato e você me conhece como ninguém. Só quis ser romântico… você sabe que adoro mato, mas adoro cidade — e acho até que você gosta mais de mato que eu.

— Eu gosto, sim, mas também não moraria isolada no mato. Preciso ver gente.

— É, eu também não consigo.

— Eu sei…

— Então tá perfeito: a nossa casa no semi-mato.

— Como é isso, Markus?

— A gente passa o ano na cidade e todas as datas comemorativas na fazenda, a partir de agora — porque lá tive os momentos mais incríveis da vida ao seu lado. Você me ensinou tanto… eu evoluí tanto…

— O amor te fez evoluir, Marquinhos. Não fui eu.

— Ah, foi você e o amor…

— Tá bom, eu aceito meus créditos porque você me ensinou ainda mais.

— Eu não te ensino nada, Ysa. Você já é a deusa abusada mais poderosa da face da Terra — e, se brincar, do céu e do inferno também…

— Tá aí, gostei… kkkkk melhor declaração de amor que essa não tem.

— Irônica, exibida… Sabia que reparei que você tá cada vez menos exibida? E confesso que choquei um pouco com tamanha simplicidade. Seu jeito de falar tá mais sereno, seu olhar tá tão mudado. Eu não sei o que aconteceu, mas eu consigo ler todos eles sem que você precise falar… — disse ele, passando a mão em meu rosto. E sem dúvida nenhuma, era o carinho dele que eu mais gostava no mundo inteiro — e por favor, não me perguntem o motivo. Nem Freud explica o que aquilo, com os olhos dele sobre os meus, provocava em mim.

— Ysa, você mudou tanto! Eu amo tanto essa outra que vejo em seus olhos. Nenhuma mulher mexeu tanto comigo. Nenhuma outra chegou perto do estrago que você provocou quando olhou em meus olhos. Você bagunçou minha vida inteira, rasgou todos meus scripts — mas no final, me deu a composição completa, com nota e letra, que virou a canção mais linda de todos os tempos...

— Não mudei, Markus. Ao contrário… essa aqui sempre fui eu. Só que, para cada pessoa, eu fui o que cada pessoa soube extrair de mim. Eu fui protegida com capas de acordo à necessidade, porque, quando você ainda não se descobriu, você se molda à situação. Você não me mudou e nem me transformou. Você me despertou — e eu acordei livre da necessidade de querer completar o outro. Hoje eu só quero somar. Eu não tenho a pretensão de fazer joguinhos e nem te fazer feliz — porque eu sei que só eu posso te fazer feliz. Quando você tem certeza disso, todos os jogos caem por terra. Eu nunca precisei te seduzir — nós nos seduzimos juntos. Essa é a diferença. Você me fez retomar a minha essência, me fez evoluir... a evolução não tá no futuro, ela tá aqui dentro, ela tá no momento do agora — sempre no presente. E você não só me deu olhos para enxergar isso — você me fez sentir, você me fez viver isso aqui. As pessoas não sabem que evolução não tem nada a ver com o que está por vir, mas sim com aquilo que já foi e se tornou o seu já é… Então, como você fala, já é.  Evolução tá exatamente em voltar. Tá no resgate da sua essência. Quando você descobre o que é evolução, você percebe como o mundo precisa de ajuda. Eles tão fazendo o caminho oposto. Você evolui quando você volta — e não quando vai. Você evolui quando resgata suas origens e consegue equilibrar o agora — e mesmo com todos os acontecimentos à sua volta, nada do que acontece fora te abala mais.

— Você tá na brisa, né?

— Tô, Markus. Eu tô na brisa e nada me abala — que delícia… acho que daria uma bela música.

— Ahhh não, você quer compor agora!? Eu tenho uma ideia muito melhor, já que estamos nós dois aqui na porta do banheiro e o chuveiro tá chamando dois e pensando: “Quem diria!!! Que esses dois iam terminar assim.”

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Ele me carregou, me sentou na cama e tirou meu salto, minha meia-calça, minha saia social preta. Abriu, um por um, os botões da minha blusa social branca, olhando nos meus olhos e encostando propositalmente a ponta dos dedos na minha pele toda arrepiada de tesão.

— Adoro quando faz isso.

— Eu sei. Eu sinto. Eu vejo... E eu adoro te despir com calma pra dar tempo de namorar com toda sua alma antes de namorar seu corpo.

—Qual dos dois você gosta mais? — perguntei, passando meu pé direito no peito dele, por dentro da camisa...

Ele estava de frente, abaixado, massageando meu pé esquerdo e olhando dentro dos meus olhos.

— Ah, não passa o pezinho assim...

— Se eu passar, vai ter o quê?

— Se você continuar, você me dá o direito de fazer o que eu quiser com ele sem interrupções...

— Meu Deus, Markus! Você me enlouquece assim...

— Mas você nem sabe o que vou fazer!

— Por isso mesmo que fico louca! Se soubesse, perderia a graça.

— Você adora um jogo, né?

— Adoro...

— Então, gatinha, o xeque-mate hoje é meu.

— Ahhh, duvido!

Ele fez uma manobra que nunca tinha feito antes e eu não tava acreditando no que estava sentindo.

— Markus, o que você tá fazendo?

—Uma coisa que você fez uma vez comigo e eu enlouqueci, mas não tive coragem de falar. Então achei que devia testar em você pra ver se é um fetiche meu ou se é tão gostoso quanto o que  eu senti aquele dia.

— Por que não falou nada?

— Porque aprendi com você que fazer é melhor que falar.

— Mentiroso, você não falou porque é um machista safado. Homem não gosta de admitir fraquezas, principalmente na cama. Mas só pra você saber: eu percebi que você tinha gostado, sim. E eu sei a loucura que provoco em você quando massageio teus pés com óleo de mirra.  Acho que você tem fetiche por pés, mas agora eu tô achando que você tem toda razão — falei, me contorcendo de prazer enquanto ele chupava, com detalhe, cada um dos meus dedos. — Meu Deus, Markus, troca de pé, pelo amor de Deus...

— Não. Eu sei por que você quer que eu troque, e eu tive vontade de falar o mesmo quando você me chupou a primeira vez. Mas eu aguentei, então aguenta aí, porque o xeque-mate é meu antes do segundo tempo.

— Aiiiiiii! Markus, não vale! Você tá misturando xadrez com futebol ⚽!

— Aqui vale tudo que eu e você quiser, sua gostosa.

— Markus, não!

— Ysa, seu “não” na cama significa sim. Não adianta fingir que não tá gostando, porque sou perito nas curvas do seu corpo e eu sei o que cada pelinho desse arrepiado significa. Eu nunca imaginei que poderia sentir tanto prazer te dando prazer... loucura...

— Isso se chama conexão de alma, amor. Nesse momento, não somos dois,  somos um. Então, o que você sente não é só meu corpo físico. E como você tá fazendo amor com a minha alma ao mesmo tempo, você também tá fazendo com a sua e eu com a minha. Então, no final, isso tudo aqui vira uma suruba deliciosa.

— Aiii, Markus, você sendo romântico é lindo — kkkk — e fica mais lindo ainda chupando um pouco mais acima assim...

— Safada.

— Toda pra você...

— Assim você mata o papai...

— Gozeiii...

— Nossa, Ysa, você fez um LinkedIn muito louco agora.

— O quê foi?

—  Sabe por que você gozou tão rápido?

— Sei... porque você me excitou a nível Havard.

— Não, porque você fez uma associação emocional com a música que eu fiz pra você. Você é linda, sabia?

— Markus, você tá usando psicologia na cama comigo?

— Teoricamente, já estamos no chão.

— Sacana!

— Aprendi com você.

— Merda, Markus.

— Cala a boquinha que hoje só quero te ouvir xingar assim de prazer.

— Eu nem xinguei ainda, Markus. Você é muito inocente, sabia?  Só por isso vou fazer roleta russa.

— Ai, não... aí você acaba comigo!

—  Esquece o compromisso, amor. Ninguém sai dessa casa hoje...

— Tô preso?

— Não, amor, a porta tá bem ali. Você é livre pra ir quando quiser, pega a chave — tá ali, ó. Mas duvido que você queira sair.

Subi nele para fazer a massagem preferida da vida dele com o segundo anel. Ele gemia.

— Markus, você não gemia assim.

— Era vergonha.

— Kkkkkkkkkkkkkkk!

— E você não me torturava assim antes

— Porque antes eu só sabia usar o primeiro anel.

— E já era incrível.

— Falei no ouvido dele: imagina agora que eu sei usar os três...

Ele gozou.

— Como fez isso?

— Usando o terceiro.

— Você nem me preparou!

— Não ia ter graça falar antes de fazer, meu amor.

— Ysa, o que foi isso?  Quero de novo.

— Ahhh, vai ficar querendo — falei, correndo pro chuveiro.

Ele correu atrás de mim.

— Tô tonto, espera! — ele me abraçou, ofegante.

Sentei ele no chão e dancei pra ele a música “Vai ficar querendo...”

— Não acredito que tô nesse estado de novo!

—  Duvido que em toda a face da terra alguma outra mulher tenha poder de fazer isso com você. Fala na minha cara, tem?

— E se tiver?

— Você acabou de me confessar que não tem, porque nunca teve e nunca vai ter, Markus.

— E se tiver...

— Então vamos estar errados sobre nós dois, porque só almas gêmeas se fundem a esse nível. E você só vai experimentar isso aqui comigo.

— Ysa, vamos pro motel?

— Motel?  Mas assim, do nada?

—  Você quem me ensinou que não precisa ter motivo.

— E não precisa...

— Então vamos?

— Mas já estamos aqui...

— Tá uma delícia aqui, mas eu quero ir naquele motel que transamos a segunda vez.

— Poxa, Markus, você foi longe, hein. Que tipo de psicologia foi essa agora?

— Te mostro na prática quando chegar lá.

— Ave Maria, só se for agora — já tô indo pegar a bolsa.

— E a roupa?

— Tá louco? Roupa pra quê? Se quiser me levar pro motel, vai me levar assim, e sem toalha.

— Ysa, você tá louca?

— Não estou, Markus, esse é meu estado normal.

— Até parece que vou deixar os filhos da puta na estrada te ver assim.

— Eles só vão ver, Markus. Quem tá pegando é você.

— Você é uma safada que quer ficar se exibindo!

— Tem certeza que você não gosta da exibida?

— Odeio.

— Eu tô vendo.

— Tá vendo o quê?

— Seu pau falando mais que mil palavras — e ele tá falando que quer que eu faça uma massagem de língua — falei, pegando um pirulito na bolsa.

— Porra, porra, porta, caralho! — falou ele, batendo na porta.

— Aiii, Superman, não gasta esses tapas na porta — ela não tá sentindo nada, mas eu, se ficar de quatro pra você e você bater assim na minha bunda, aiiiiiiiii acho que vou gozar de tanto tesão...

Ele ficava incontrolável.

— Vamos, Ysa, você venceu — mas leva o lençol.

— Sem lençol, sem toalha, Markus.

— E como vou te esconder nesse carro?

— Use sua criatividade.

— Ok — falou ele, pegando a chave e me puxando.

Me pegou no colo e me levou pro carro.

— Lkkkkkkk esse é seu jeito de me esconder?

— Não vai conseguir, amor, tá mostrando meu peitinho.

— Não pensei em um jeito melhor.

Ele me colocou no carro, rasgou a camisa e cobriu as janelas com a fita que tava dentro do porta-luvas.

— Markus, deixa de loucura. Você vai bater o carro, como vai enxergar o retrovisor.?

— Você tá falando com Superman — visão de raio X e infravermelho. Confie em seu Superman.

— Sai, Markus...

— Não vai aparecer pelada, não vai se exibir.

— Não vou se eu não quiser, né? Conserte sua frase machista.

— Mas você adora — tô vendo suas pernas arrepiadas.

— O que eu adoro não é a frase, seu besta — é a autoridade que você impõe nela. Você podia falar “água” com autoridade e eu ia arrepiar do mesmo jeito.

— Você precisa ir no psicólogo.

— Se eu preciso, você também precisa, porque só almas sintonizadas entram no mesmo fluxo. Se eu sou louca, você é mais louco ainda...

— Adoro ser louco, então — ele arrancou o carro.

— Markus, devagar! Meu Deus, você vai matar a gente!

— Vou mesmo. Vou matar nós dois no pole dance daquele quarto.

— Ahhh tá! Descobri agora o motivo: era só irmos lá em casa, bebê — lá tem pole.

— É, mas pela primeira vez você esqueceu a data de hoje. E eu não tô afim de comemorar nem na sua casa e nem na minha.

— Esqueci, é? — falei, puxando a arma da bolsa.

— Tá louca, Ysa? Que susto!

— Respeita minha história, Markus. Eu esqueci só o juízo quando te dei ousadia.

—. Eu fico sem palavras com você, sabia?

— Sabia... Mas a gente não vai precisar de palavras agora. Guarda pra mais tarde, amor.— Você me chamou do quê?— Chegamos. Não da tempo repetir. Quem sabe la dentro voe me convença melhor? — Anda, Markus, pega as chaves!

Ele abriu a janela um pouquinho, somente o suficiente para passar a mão.

— Qual quarto o senhor quer?— Um quarto com polidance, por favor.— Tem mais alguém no carro com vocês?— Tem sim, moça. Uma que vale por dezessete.— E por que as janelas estão cobertas?— Porque ela está nua.— Podem entrar.

Ele parou em frente ao quarto, colocou as chaves na minha mão e disse:

— Ysa, olha isso.— O quê, Markus? São só chaves.— Ysa... olha.

Eu não estava acreditando. Era exatamente o mesmo quarto em que a gente tinha ficado da segunda vez. Fiquei em silêncio, até que ele falou:

— Ainda não acabou. Olha o chaveiro.

Era um chaveiro de madeira em forma de trevo.

— Quer sinal maior do que esse?— Desde quando você acredita em sinais, Markus?— Desde que você entrou na minha vida. E tudo ganhou sentido.— Adorei o presente. Obrigada.— Você ainda não viu nada.

Eu estava abrindo a porta do carro quando ele saltou, que nem louco, por cima do capô para abrir a porta pra mim.

— Ai, Markus! Que susto! Você é muito desobediente!— Achou mesmo que ia abrir a porta do carro sem mim? Não vai, não. Só por causa disso, agora o pau vai comer.— Só acho que a frase tá trocada, Markus... Quem “come o pau” sou eu.— Ave Maria, ave Maria, ave Maria!

Ele me deu a mão e eu saí do carro usando apenas meu scarpin preto e meu colar de trevo.

— Você está maravilhosa.— Não, Markus. Eu sou maravilhosa. Não confunda o verbo to be.

Joguei as chaves no chão e disse, colocando a mão na boca:

— Ups... caiu.

— Eu vi como caiu — ele falou, abaixando-se para pegar.

— Pega devagar, nego... Acho que a vista aí de baixo tá mais bonita — falei, subindo as escadas e dando o show, enquanto ele gritava:

— Ave Maria! Ave Maria! Ave Maria!

Entramos no quarto e aquele cheiro era muito familiar. Era essência de pitanga — estava em toda parte.

O quarto realmente era o mesmo. Havia uma champanhe na cama e ele gritou:

— Me dei bem!

Enquanto ele colocava a champanhe nas taças, eu revivia o repertório da última vez. E claro: estava inteiro no meu celular. Conectei nossa playlist às caixas de som do quarto. Ele conectou as luzes e disse:

— Agora é só nós dois. E quem diria que essa música se realizaria de forma tão perfeita?

Tava tocando a música Chocolate Quente, que ele fez pra mim um ano antes.

Eu estava inteira arrepiada. Sentei no divã erótico, cruzei as pernas. Ele veio com a camisa branca aberta, todo suado, parou em minha frente me oferecendo a taça.

— Thanks — falei, sorrindo.— Seu sorriso toca minha alma.— E o seu olhar penetra a minha.— Será que vamos fazer um bebê com seu sorriso hoje?— Não brinca, Marquinhos. Eu ainda tô usando remédio...— Você não vai me dar um filho com seu sorriso?— Só se você prometer que me dá um com seus olhos.— Não brinca, Ysa. Você tá falando sério?— Nunca falei tão sério.— Mentira... Você vai parar o remédio?— Não agora. Não assim, né, Markus... Mas sinto que já podemos conversar e amadurecer a ideia.— Você tá falando sério mesmo, Ysa?— Tô, Marquinhos. Mas não agora. Então vamos conversar depois sobre isso.— Não quero mais nada no mundo além do seu amor eterno e filhos seus.

Passei a mão no rosto dele e disse:

— Você parece tanto com meu herói...— E você parece tanto com o amor da minha vida...

 Os olhos dele se encheram de lágrimas. Ele me beijou e disse:

— Vamos brindar... Que cada palavra proferida de nossas bocas se torne nossa realidade, como essa música se tornou. Que todos os nossos sonhos se realizem e nos tragam paz e felicidade. E que todas as músicas que eu fiz — e ainda vou fazer — pra você, se tornem a nossa história.

Eu estava emocionada. Queria levantar, mas minhas pernas ainda estavam trêmulas. Quem era aquele homem que um dia era só meu melhor amigo? Como ele se tornou tudo pra mim assim? Como aquele moleque de vila ganhou meu coração e invadiu minha alma dessa forma?

Fizemos um brinde, olhando um nos olhos do outro, e eu disse:

— Eu escolho ser feliz ao seu lado.— E eu, do seu, Ysa.

Outro beijo. Ele falou:

— Espera... vou ali no banheiro e já volto.

— Ok — respondi, abrindo a bolsa, pegando meu diário e começando uma reflexão.

 

Ele bagunçou todos os meus planos. Meu sonho era tão simples perto daquela complexidade toda... Eu só queria morar em Portugal, fazer meu doutorado em Londres e conhecer o píer da Califórnia — aquele da série The O.C.. E de repente, minha alma estava entrelaçada na dele. Eu soube ali que meus planos não eram mais o que eu queria. Não faziam mais sentido algum.

O que adiantaria eu ter um diploma de doutorado em Londres sem ter quem eu amava por perto? Em que me serviria um doutorado em Psicanálise se eu não seguiria mais nessa área? Meu caminho mudou. A rota e o endereço estavam bem ali, na minha frente. Nada, sem ele, fazia sentido algum.

Meu sonho agora se resumia em ser feliz ao lado dele, continuar nosso projeto com a ONG. Adotamos aquelas crianças como nossas, e era por elas que estávamos dispostos a ir até o fim. Éramos padrinhos de uma criança linda. O James se tornou nossa vida. Como eu deixaria um filho pra trás?

Lendo meu diário, aqueles planos ali não faziam mais sentido algum. Eu me perguntava: como pode nossa vida mudar assim, em tão pouco tempo? Lendo aquilo, eu já não me reconhecia. Era como se eu estivesse lendo algo tão distante de quem eu era naquele momento presente.

E quando penso no rumo que as coisas foram tomando, eu entendo o que aconteceu. Tenho certeza de que havia um plano superior para nós dois, um plano além do nosso entendimento. Éramos tão pequenos... Eu me sentia tão pequena diante da imensidão do universo. Foram tantas reviravoltas, mas tudo, enfim, começava a fazer sentido. Depois de ele tirar minha vida inteira dos trilhos, eu percebi que ele bagunçou tudo só pra me provar que planos perfeitos não somos nós quem fazemos. Plano perfeito só existe o do amor.

Com essa lição, eu aprendi também a ser menos radical. A dar mais valor para o presente da presença — coisas bobas, mas que não são tão bobas assim, como admirar cada sorriso e microexpressão de felicidade que ele fazia. Eu ainda me fazia de marrenta e durona às vezes, mas só pra fazer charminho. Porque ele adorava. Meu coração já estava entregue, e eu sabia que não havia um caminho de volta. O meu lar era ali. E não existia, no mundo inteiro, melhor sensação do que encontrar seu lar.

Naquele momento, se ele me pedisse um filho, com certeza eu daria. Não mais porque ele queria, mas porque esse também era um desejo meu. Eu lembrei de todas as músicas que ele fez me pedindo um filho, de todas as vezes que ele me pediu isso fazendo amor, e de cada momento em que ele parou na rua para admirar uma mulher grávida ou pegar uma criança no colo.

Lembrei de todos os momentinhos nossos cuidando daquelas crianças na ONG. O quanto ele se dedicava... E sem dúvida: ele seria o melhor pai do mundo. O mais presente, o mais responsável, o mais carinhoso. E com certeza, eu era a mulher mais feliz do mundo — e muito em breve, seria a mãe mais realizada também.

Depois do James, percebi que estava, sim, preparada para ser mãe. Antes, eu tinha medo de não conseguir ser tudo o que uma criança precisa. Hoje, eu sei que posso ser tudo isso — e mais um pouco. Mesmo já me sentindo mãe, já sendo mãe de um filho dele. Afinal, nutrimos o mesmo amor e carinho. Fizemos o parto daquela criança. E eu duvido que exista no mundo um amor maior que o nosso pelo James. E sei que quero mais filhos. Filhos gerados por mim e por ele, e também filhos adotivos. Mas eu não quero ir a um orfanato e escolher uma criança. Eu quero que aconteça como foi com o James: eu quero que essa criança nos escolha. E eu creio que, no momento certo, teremos todos os nossos filhos correndo pela casa — com os pais, a avó, e os padrinhos-tios mais corujas do mundo.

Nossos bebês vão ter muita sorte. Eu tenho muita sorte de ter uma família tão linda. Eu não podia ter um filho antes de entender o que é ser família. O que é ter uma família baseada em amor, segurança e respeito.

Eu virei mãe no susto — e amei a experiência. Hoje eu sei que quero muito um filho dele. Esse bebê que nem nasceu ainda já é tão amado. E se chama Markus. Esteja ele onde estiver, sei que o universo está preparando ele para somar à nossa felicidade. E vai ser muito especial.

Quem diria que a executiva exemplar, viciada em trabalho, se tornaria uma simples mulher apaixonada pela vida e envolvida em tantas vidas? Quem diria que eu, Ysa Flor — deusa Afrodite, Ártemis e Ísis — abriria mão de uma carreira futurista e distante do planeta Terra... para renascer humana, aqui mesmo, no planeta Terra?

Como minha mãe, que abriu mão dos poderes angelicais só pra me reencontrar, eu tenho certeza de que abriria mão de qualquer plano sem titubear, desde que não envolvesse nós dois.

Porque quando as almas se encontram, não existem mais sonhos separados. Não existem mais dramas, pedidos ou contratos. O que existe são fusões.

Eu e o Marquinhos chegamos em um nível em que nossos sonhos eram comuns, e não existia plano maior do que a nossa felicidade. Aprendemos isso na marra, depois de um período curto de imaturidade, onde tentamos forçar nossos sonhos a andar separados. Quando ainda não entendíamos a diferença entre o que julgávamos certo e errado.

Quando colocamos nossos planos acima do que foi planejado para nós, brigamos contra o destino. E fazemos, assim, a escolha de sermos infelizes pelo resto do ciclo. Porque o ciclo se repete, se repete... e se repete, em um looping infinito. Vivemos várias vezes a mesma realidade, por pura imaturidade de não por fim ao que precisa ter fim, e de não dar início ao que clama por um novo começo.

A fase não se completa antes do fim. E para chegar ao fim, não pode haver repetições...

Quem diria que eu me tornaria essa mulher tão distante de tudo o que um dia imaginei ser? Eu me redescobri. Me reencontrei em mim mesma, quando ele me achou.

Hoje eu entendo perfeitamente o plano.E o plano é não ter plano algum — além de ser feliz e viver o agora.Porque não existe outro tempo fora do agora.

A maior lição de vida que recebi foi aceitar que, quando tem que ser... simplesmente é.

Você não pode escrever sua história sem antes conhecê-la.Você não pode dizer que é alguém sem antes ser esse alguém.Você jamais pode dizer que escolhe amar alguém, porque ninguém escolhe amar — é o amor que nos escolhe, sempre.

Não existem coincidências, nem acasos. O que existe são escolhas.

Eu poderia ter tido o universo nas mãos... mas sem o amor da minha vida, isso seria nada. Eu poderia ter ele e não ter nada material — nem casa, nem emprego, nem roupa, nem luxo, nem comida — e ainda assim eu jamais passaria por nenhuma necessidade.

Você pode pensar que eu sou louca. Porque na sua realidade só existe a matéria. Mas a verdade é que loucos são vocês que ainda não conhecem o amor. Onde há amor, nada falta.

E por isso Marquinhos tem o Salmo 23 que diz: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará.”Sabe por quê?Porque ele tem o amor.Ele conheceu o verdadeiro amor.

E ainda que um dia ele não lembre, isso está tão enraizado na essência dele, que mesmo sem saber, um dia ele vai acordar sedento de amor.Porque só o amor pode devolver a ele a plenitude de ser feliz em um mundo de matéria.Ele não precisa de nada além do amor para existir.E enquanto ele tiver amor, ele tem tudo.

Porque onde existe amor, nada falta.Não existe carência. Nem medo. Nem ausência. Nem ciúmes, ansiedade, crises...

Quando a Bíblia fala que o amor suporta tudo, ela está se referindo à matéria.Ela está dizendo que nenhum ser sem amor consegue viver na matéria e ser completamente feliz.Pode até ter momentos nomeados de felicidade... mas a essência da felicidade só quem é completo de si e cheio de amor pode compreender.

Quando se tem amor — o amor de verdade, aquele sem medo, sem ego, sem subterfúgios — ele supera e joga fora todo o medo, porque não existe amor dentro do medo.O amor se lança. O amor só sente.

E quando Deus me deu meu Salmo 91, Ele me deu como continuação do 23.Você já leu o Salmo 23 e o 91 juntos? Pois leia. E você verá a mensagem.

O amor é a falta da ausência.Essa frase é complexa, mas se você parar pra pensar...Quando você ama, é tão completo que transborda, a ponto de se perguntar se está sonhando ou vivendo de verdade.

O Salmo 91 diz que o amor também é proteção.

Sabe esse "casamento blindado" que muitos dizem ter porque têm um papel assinado?Um papel que pode ser desfeito a qualquer momento?Pois o Salmo 91 veio quebrar esse conceito errado.

Ele diz que “mal nenhum chegará à tua tenda, à tua casa, à tua família”.E seu casamento é blindado somente quando existe amor.Porque o verdadeiro amor, por si só, já é a proteção.

Sabe quem pode quebrar um laço de alma?  Ninguém!

Porque se ele se quebrasse, não era amor.

O amor é inquebrável.

Todos os sinais provam que seria impossível nos desconectarmos

Ele voltou do banheiro. Eu estava deitada no divã, escrevendo no meu diário. Ele parou na porta, e meu queixo caiu.

— Nossa Senhora, Marquinhos! Quer matar quem?

— Você.

— Assim você me mata, pai! Que que é isso?

— Sei que você gosta. Então comprei pra você... Você sempre compra lingerie nova pra mim, e eu percebi que preciso ser mais caprichoso...

— Nossa, Markus! Você tá um tesão. Vem aqui, vai...

— Tá achando que sou fácil assim? Você vai ter que pedir mais... Daquele jeitinho que eu adoro no ouvido. E vai ter que me chamar daquilo que você me chamou e depois disfarçou. Pode ir falando...

— Markus, você tá me chantageando?

— Fala que não quer me ver tirar ela pra você...

— Aiii... eu quero, tira, vai...

— Só se você falar do que me chamou antes.

— Eu te chamei de meu nego...

— Não...

— Aiii... tá bom! Tira essa porra e me dá essa taça aqui!

— Assim que eu gosto...  Vai dançar no pole pra mim?

— Eu faço o que você quiser, Markus. Mas tira bem devagar... daquele jeitinho que eu adoro.

Ele sensualizou com um olhar que só ele sabia fazer. Mordeu o cantinho da boca, começou a tocar a música que fiz pra ele — Primeira Vez. Aqui, nessa realidade, quem canta é Clau. Ele chegou pertinho de mim, ficou ali, em minha frente, dançando, e perguntou:

— Você lembra quando você sentia ciúmes da executiva da Ana... que era você mesma?

— Palhaço!

— Eu? Você sente ciúmes de você mesma e eu que sou palhaço? Você ainda me acusava de carregar outra pessoa no olhar... sabendo que era você. Rapaz, você foi muito cruel comigo, sabia? E você sabia que era você o tempo todo, e não me contou!

— Eu contei. Você que não acreditou. Mas veja pelo lado bom: fez parte do seu teste, nego. E você foi aprovado com sucesso. Queria ver se me amava mesmo ou se era só xaveco pra me comer.

— Nega... se um cara passar o que eu passei só pra te comer, ele merece um Oscar. Eu me apaixonei antes de chegar na cama.

— Ainda bem que você sabe. Ave Mariaaaa... assim eu fico doidinha.

— Doidinho tô eu!

— Olha... — falou, me abraçando e me apertando contra o divã.

— Olhei, peguei, gamei...

A gente se beijou, e eu escorreguei pelo corpo dele, derramando parte da champanhe e beijando ele todinho. Estávamos fervendo. Levantei e disse:

— Ahhh que bonito tá... Pensando que vai me comer facinho assim?Eu quero ouvir você gemer daquele jeitinho que você tenta ficar calado,  mas não consegue.   Markus,  só eu sei como fazer isso. Vou fazer você subir pelas paredes com meu show agora.

Fui para o palco e ele gritou:

— Aaahhhhh!

— Calma, nego... Eu nem comecei.

Coloquei ele sentado no palco e dancei pra ele a minha música: A Danada Sou Eu. Ele ia ao delírio.

— Ahhh, caralho, que tortura! Chega, vem aqui, amor...

— Você me chamou do quê, Markus?

— Chamei de meu amor, caralho! — falou ele, me arrancando do pole incontrolável.

Não sei por quantas paredes rolamos — até a cama, da cama pro chão, do chão pra hidro, da hidro pra piscina...

E na piscina, enquanto ele me beijava, eu encaixada na cintura dele, passava a língua bem devagar na orelha dele. Quando ele estava quase lá, sussurrei no ouvido:

— Eu te amo, Markus. Meu homem.

— Você disse o quê?

— Eu falei que eu te amo, meu nego.

Ele gozou olhando nos meus olhos. A queda-d’água da cascata sobre nós parecia formar uma aura maior que a nossa própria.

Ele me apertou contra ele, me abraçou forte e disse:

— Eu sinto. E em nenhum momento, por mais louco e cego que eu estivesse, jamais duvidei do seu amor por mim. Essa conexão que temos é tão única... e tão nossa.

— Eu sei, amor...

— Ysa... não esqueci. Você me chamou do quê?

— De Markus...

— Não... fala...

— Marquinhos...

— Não, Ysa. Fala, vai...

— Kinho?

— Ahhh que marrenta escrota você é! Fez meu coração ir na lua e voltar, e agora fica aí com essa marra da porra! Eu sei que você é louquinha por mim!

— Quem te deu essa ousadia, Markus?  Você acha que eu ia dar ousadia a um feio desses?

— Sou feio, é?

— Muito feio...

— E o que faz você gemer assim comigo, hein?

— Seu talento. Você é feio, mas seu talento é lindo. Feito na medida exata pra minha deliciosa grutinha.

— Ahhh... meu talento. Você acha ele bonito?

— Acho.

— Você gosta dele?

— Venero. Adoro...

— Essa parte eu não sabia... Achei que você só gostasse de chocolate importado...

— É, eu também achava... até experimentar esse aqui.

— Você não vai me chamar daquele jeito de novo, né?

— Que jeito?

— Você sabe...Mas você gosta de me ver rastejando, né?

— Adoro. Você fica bem mais gostoso assim, rastejando por mim.

— Eu sei o jeito certo de fazer você falar. Na hora H, você grita até os vizinhos ouvirem.

— Que mentira, Markus!

— Ainda vou gravar... só pra ficar ouvindo quando estiver longe de você.

— Bobo...

— Bobo por você. Você devolveu minha autoestima e acabou com meu ego.

— Eu não, Markus. Só o amor faz isso.

— Não vira assim... e não me olha assim, que eu fico louco. Sério.  Posso te confessar uma coisa?

— Pode.

— Tem horas que um olhar seu é mais excitante que um vídeo pornô.

— Nossa... tô bem putinha então.

— Não tô brincando — falou ele, segurando meu braço. — Olha pra mim.

Encarei ele, e ele disse:

— Você ouviu o que eu disse?

— Ouvi.

— Mas não tô brincando... Queria te contar, mas fiquei com tanta vergonha...

— Contar o quê, Markus?

— Que hoje de manhã, eu abri a geladeira pra pegar o suco e encontrei sua calcinha amarrada na boca da minha garrafa de água. E o que você escreveu... mexeu comigo o dia inteiro. Eu não conseguia pensar em outra coisa.

— O que eu escrevi?

— Você não lembra?

— Vagamente...

— Mentirosa. Mas eu te relembro. Você escreveu com caneta permanente na garrafa inteira: “Queria leite, mas só achei água. Vou deixar minha calcinha pra ver se da próxima vez que você for ao mercado, você lembra de mim.”

— Eu fui ao mercado só pra comprar a porra do leite, mesmo sabendo que odeio leite. Porque aquela cena do meu aniversário ficou se repetindo eternamente na minha mente. Eu não sei o que me deixa mais excitado... sua voz, seu cheiro ou pensar em você. Você tá me enlouquecendo, mulher. Não tô aguentando mais ficar sem você. Vem morar comigo. Quero te ver acordar todos os dias com essa boquinha vermelha queimando de tesão assim por mim...

— Você me deixa louca, sabia? E sobre o leite, eu agradeço por ter ido ao mercado. Mas quando você olhar a garrafa de novo, lembra que eu tava me referindo a um leite mais gostoso... E eu vou te mostrar agora como se bebe direto na fonte...

— Ave Maria! Ave Maria, ave Maria!

— Acende o abajur, meu amor. Quero seu olho aqui nessa cena.

— Ave Maria, mulher! Você existe? Tenho medo que seja só um sonho, sabia? Fala que você é real...

— Vou te provar que existo bebendo esse leite  na fonte, meu amor...

— O quê que você falou?

— Chega o ouvido...

— Eu falei: meu amor. Falei: meu homem, meu gostoso... meu tesão... Eu te amo, sabia?

— Sabia.

Ele ficou inteiro arrepiado.

— Então... você lembrou que faz um ano hoje?

— Lembrei.

— Não achei que fosse...

— Nem eu achei que você tinha guardado a data.

— Eu guardei. Foi especial.

— Tudo entre nós dois é especial.

— É... até a embalagem de pó de café, kkk.

— Você viu, é? Intruso!

— Vi e fotografei. Lá na viagem, eu ficava o tempo inteiro olhando e pensando: “Meu Deus, minha mina é fofa... é foda.”

— Pra combinar com você, meu rei.

Nos entrelaçamos ali mesmo. E quando ele me pegou, foi tipo xeque-mate. E foi nesse dia que ele compôs Batom Vermelho.

Então, se você ouvir essa música... vai saber alguns detalhes do que aconteceu ali, naquele quarto...

 

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Do livro: Eu por você, você por mim

Serendipity 11:11 – O Portal do Amor

Ysa Flor

Esse livro conta a 2ª fase da historia de Ysa Markus, quando a amizade evolui para uma paixão avassaladora e um amor incondicional de tirar o fôlego.

 

 

 

                                                                                                                  

 

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2018, by Ysa Flor

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