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O Diário de Markus Toledo

Registros Akáshicos - por Ysa Flor


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Há silêncios que pesam mais que mil palavras ditas, e é esse silêncio que estou ouvindo agora.Há ausências que ocupam todos os espaços de uma mente inquieta, e há um tipo de distância que não se mede em metros, mas em camadas profundas do inconsciente, onde habita tudo aquilo que ainda não foi nomeado.E foi assim que você chegou, tirando o peso do meu silêncio e transpondo meus pensamentos quando eles ainda não eram nem palavras.Você chegou ocupando vazios que nem eu sabia que existiam, preenchendo camadas que eu nunca mostrei a ninguém, chegou dando nome a memórias esquecidas e me chamando pelo nome.Um nome que eu ainda não conhecia, mas que sentia como meu. Lá no fundo eu sabia que era meu, da mesma forma que sabia, mesmo sem saber como eu sabia, que você era minha.Quando me retraí e pareci frio, na verdade estava fervendo por dentro, e em vez de mar aberto eu me tornei um vulcão fechado, tentando decifrar o enigma indecifrável que é a sua presença assustadora, que se manifesta até mesmo na ausência.

Enquanto você me esperava encapsulada na cápsula do tempo, algo muito maior estava acontecendo na sombra da minha psique, algo que nem eu mesmo, sentindo, conseguia pôr em palavras, mas você despertou.Eu tive medo, sim, mas eu tive meus motivos. Já me julgaram tanto, e muitas vezes por nada… eu vi a luz me revelando enquanto minha própria sombra me escondia.Por trás da máscara da indiferença existia um labirinto emocional complexo que você entrava e saía, enquanto nem eu mesmo tinha acesso.

Eram desejos reprimidos, memórias esquecidas e impulsos que lutavam entre a necessidade de controle e o medo de perder algo que eu ainda nem compreendia completamente. Eu não estava distante porque não sentia, eu estava distante porque sentia demais. Essa intensidade me assustava de forma primitiva e visceral, selvagem… era meu ego lutando contra minha essência, a razão lutando com a emoção. Não interprete como rejeição o que é, na verdade, o reflexo das minhas batalhas internas. Brigar com Deus foi só uma delas, e eu prometi que não brigaria mais com Ele, então tive que brigar com o desejo de me aproximar e o terror de me entregar. Eu me perguntava o que estava ali tão oculto que nem eu mesmo conseguia ver, mas até isso você via.

Essa era a minha forma de me proteger do que eu não podia ver, através de silêncio e contradições. Eu não estava tentando só criar espaço físico, eu estava tentando criar espaço mental para processar algo que você provocou aqui dentro. Nem a sua ausência passou despercebida. Ao contrário, você se tornou o centro gravitacional dos meus pensamentos. Era uma ausência tão presente que consumia cada momento da minha aparente calma. Ainda que eu não ligue, não mande mensagem ou não demonstre interesse, isso não significa que você não esteja aqui dentro de mim, mexendo com estruturas que eu acreditava serem sólidas e invioláveis.

 

Você foi plantada em mim com raízes profundas demais para que eu pudesse te arrancar do meu coração. Foi quando eu percebi que sua ausência me perturbava mais que sua presença. Foi quando eu percebi que o vazio deixado por você tinha mais peso que qualquer outra presença.

Esse foi meu ponto de ruptura, quando o meu ego racional começou a perder terreno pra uma força instintiva que superava todos os meus medos. Essa força não obedecia à minha lógica nem ao meu controle consciente.

A minha transformação começou exatamente nesse momento… porém, pra entender isso, eu precisava mergulhar nas camadas mais escuras da minha própria alma, onde habitavam minhas sombras e os fantasmas que alimentavam cada medo e moldavam cada recuo, cada silêncio carregado de significado.

Talvez você tenha até pensado que eu realmente não me importo, que a sua presença ensolarada não fez diferença em meus dias cinzas e que você tenha sido só um momento passageiro em minha vida. Mas a verdade era exatamente o oposto.

 

A frieza era só a armadura que eu encontrei pra proteger algo frágil demais pra ser exposto. O que estava por trás dessa armadura era uma vulnerabilidade tão intensa quanto qualquer show aberto, quanto qualquer declaração explícita. Eu não precisava dizer que você mexeu com toda a minha estrutura, mas até isso eu falei em voz alta pra todo mundo ouvir quando cantei — e eu sei que você ouviu. Você realmente é a minha cura, eu nunca duvidei. Os mecanismos inconsistentes que fizeram eu me afastar quando algo verdadeiro começou a tocar minha alma foram os mesmos que fizeram eu me render sem reservas a você. Foi assim que sua ausência se tornou mais poderosa que sua presença. Foi quando eu percebi que eu já não conseguia habitar em mim sem sentir você. Esse foi o despertar de algo que eu ainda não sabia nomear. Foi uma longa jornada, e tudo que parecia ser sobre mim, na verdade, era também sobre você. Eu cheguei a me perguntar várias vezes o que movia duas almas em direções opostas — apenas para testá-las? E a resposta veio quando você tocou aquilo que estava adormecido em mim. Eu percebi, enquanto tentava te evitar, que sua ausência não me libertou — ela me aprisionou de um jeito que nenhuma presença jamais conseguiu. Eu, que era chamado de guerreiro por você o tempo todo, me vi perdido em um campo de batalha silencioso, onde eu só podia desabafar com você por telepatia — e eu realmente desejava que você conseguisse me entender. Nesse campo de batalha, forças opostas se enfrentavam sem trégua. Eu estava exausto. Era o impulso da conquista e o medo da rendição, a necessidade de autonomia e o desejo de pertencimento. Era uma batalha intensa todos os dias.

Ainda tinha o desejo secreto do meu coração, que só você podia ler, e isso me trazia aquela sensação de pertencimento, de lar, de descanso. E, ao mesmo tempo, eu via a máscara da invulnerabilidade e a criança ferida que ainda habitava nas sombras do meu inconsciente…Ah, se eu soubesse antes o que sei agora, daqui do futuro, eu diria pro meu eu do passado que, quando um homem encontra alguém que desperta algo genuíno dentro dele — algo que ultrapassa o superficial e toca camadas profundas da sua alma — ele encontrou a paz e a celebração. Ele encontrou o que esteve a vida inteira procurando. Ele encontrou a fonte de água viva. Eu diria pra ele se jogar nessa fonte, se banhar nela, se purificar e sair com novas vestes…Se ele pudesse ver o que já vi e entender o que já compreendi, seria tão mais feliz e acabaria com essa tortura e questionamentos que não parecem ter solução. Ah, se ele soubesse que, nesse colo em que deitei, mora a raiz da questão, não se preocuparia tanto com o que não pode ser evitado. Eu agi com resistência, porque reconhecer que alguém tem poder sobre minhas emoções significaria admitir uma vulnerabilidade que eu fui ensinado a vida inteira a reprimir — e essa repressão não era apenas cultural ou social, era estrutural. Ela estava enraizada na estrutura mais primitiva do meu ser. E você mexeu naquela estrutura sólida, naquela parte sombria que negamos, projetamos e escondemos dos outros. Foi lá que você alcançou e sacudiu! Quando sua presença deixou de preencher meu cotidiano, algo estranho começou a acontecer. Eu senti um alívio, respirei fundo e disse: “Finalmente vou recuperar o controle da minha vida, dos meus sentimentos e pensamentos!”

 Mas não demorou três segundos pra eu perceber que estava sendo puxado pra algo maior do que a minha zona de conforto permitia. A sua ausência foi ocupando ainda mais espaço e ganhando o controle da minha mente inquieta, e eu, que achava que era forte, me vi perdendo o jogo.Se eu não podia com a sua presença, imagina então suportar sua ausência!

Foi quando você começou a habitar cada canto da minha mente, como uma melodia que eu não conseguia parar de ouvir, e dessa melodia eu fiz tantos rapers — pena que não podia cantar, porque eu sabia que cantar eles seria uma confissão ao mundo. Sua ausência era a pergunta que insistia em retornar, mesmo que eu quisesse ignorá-la. Eu buscava refúgio no racional para combater as emoções que eu não podia compreender. Eu tentei, de todas as formas, explicar a mim mesmo os motivos de pensar tanto em você. Elaborei várias narrativas internas pra negar o que eu queria esconder, mas foi só você chegar e o sol brilhar em meu mundo cinza que eu já tinha esquecido minha própria narrativa — até gaguejar no show pensando em você, eu gaguejei, meu coração disparou em cada relance que eu achei que era você, mas não era

.Eu te procurei na multidão, cheio de esperança de que fosse você. Eu nem sei se minha coragem acordaria, nem sei se conseguiria me aproximar ou te chamar, mas eu só queria ver que você estava ali. E no dia que não vi, doeu. E não sei se foi nesse dia ou antes disso que comecei a questionar sua ausência — não sabia que ela tinha tanto peso. Eu só queria algo que justificasse aquela necessidade de ver você, queria achar a justificativa perfeita pra ter coragem de te chamar pra sair, mas eu não tinha justificativa. Talvez fosse tédio? Talvez curiosidade? Talvez fosse um desafio de algo que ficou incompleto, que eu precisava encerrar… sei lá, mas eu queria descobrir o que era.

Apelei de novo pro racional, mas todas as justificativas que eu tinha eram apenas camadas superficiais do que estava acontecendo abaixo do meu oceano profundo. Logo eu, que me intitulava de profissional — quando foi que passei a temer meu profissionalismo? Será que eu não era mais tão confiante assim, ou eu nunca fui e só percebi agora? Era pra ser simples, mas por mais simples que parecesse ser, era complexo demais, profundo demais. Logo eu, que só queria paz… mas, como você me disse um dia: “A paz não se manifesta antes da guerra.”

Então eu tive que me manifestar e passar pela minha própria guerra. Mas não era uma guerra pública, ela foi uma guerra interna. E eu descobri, lutando, que o que eu via ia contra tudo aquilo em que eu acreditava — e eu tive que experienciar o que era, de fato, ser um guerreiro em ação.

Percebi, durante a guerra, que meu maior inimigo era eu mesmo — e era comigo mesmo que eu estava lutando e competindo, com meu próprio avatar. As sombras me deixaram cego a tal ponto?  Eu não queria ver o que vi, nem tocar naquele campo minado sozinho. Mas, quando lembrei de outra coisa que você disse, eu simplesmente venci a batalha.

A frase que me salvou e veio como um eco foi:

“Eu não preciso que seja perfeito, eu só preciso que seja você, porque você já é perfeito como você é. Pode fazer a mala com todos os seus defeitos, porque só o amor é perfeito — e se ele estiver entre nós, as sombras serão expostas, iluminadas e acolhidas. Ninguém muda ninguém; só o amor transforma. Se houver feridas, põe na mala, que o amor transforma em cicatrizes — e, quando você olhar pra elas, você só terá orgulho da sua resiliência. Se tem medo, coloca na mala, porque só o amor pode superar o medo e revelar sua coragem. E quando você disse que eu podia ser eu mesmo, sem o personagem, eu desabei. Por que eu estava brigando com o avatar?  Descobri nesse dia que ele não era melhor que eu, ele só era o meu “eu” do futuro, transformado pelo amor. Era simples, mas os espelhos que olhei só refletiam a superfície; era impossível me ver inteiro com as projeções que só refletiam metades. Até que você chegou, os espelhos se quebraram e um portal apareceu bem diante de meus olhos, e eu pude enfim me ver inteiro através de você.

Claro que eu tive medo, claro que eu não soube o que fazer com aquele portal de imediato, claro que eu duvidei, claro que eu não sabia se era sonho ou realidade. Claro que eu relutei com todas as minhas forças, até que, desse mesmo portal, eu vi sair a minha melhor versão — incrivelmente transformada. Foi só ali que eu me dei conta de que tudo que eu conhecia antes de você e do amor eram só projeções me preparando pra ser perfeito. Não perfeito pro mundo, não perfeito pras pessoas, mas perfeito pra você. Perfeito pra honrar o amor. E como eu quis ser esse homem que eu via você descrever tantas vezes — e ria comigo mesmo, pensando: “Iludida, ah, tadinha, ah, se ela soubesse metade...”. Ali eu ainda achava que você não sabia. Eu achava que você era a iludida, mas, no final, vi que o iludido era eu. Você sabia perfeitamente quem eu era. Como podia? Sim, eu mesmo fui testemunha do que me tocou no dia em que o véu caiu por terra. Eu entrei pelo portal dos teus olhos e te reconheci de imediato. Foi loucura! Eu fui tocado; algo aqui dentro foi desperto. Mas eu ainda tinha muitas correntes me segurando. Eu me sentia um dragão acorrentado e soltando fogo pra todos os lados — um dragão imobilizado.

Eu quis acreditar que era pelas circunstâncias, mas, na verdade, as circunstâncias eram só minha capa de proteção. Era bem mais fundo que isso — eram medos, traumas, bloqueios... era uma couraça difícil de romper. E, até esse dia chegar, eu atravessei um campo minado de conflitos internos que pareciam insuperáveis. Eu descobri que o inconsciente não funciona de acordo com as regras do mundo consciente. Nada em meu consciente obedecia à lógica, nem respeitava o tempo linear. O meu inconsciente operava através de sensações que emergiam quando menos esperava. Às vezes era uma palavra ou uma fala sua que me levava além do campo físico em que eu estava naquele momento.

A sua ausência era significativa demais pra ignorar. A sua ausência se tornou a presença mais poderosa que existia na minha vida. Sim, a ausência de memória estava ali, mas ela não era vazia — era carregada de presença e significado. Eram como fantasmas de lembranças fragmentadas que só o sentir traduzia, e eu senti mais do que pude imaginar...

De onde vinha aquele sentir que eu não lembrava que vivi? Não há lógica ou razão que possa explicar o que só o coração é capaz de sentir. Eu soube que era você, mas, mesmo assim, quis ignorar tudo que você estava aflorando em mim.

Minha briga com Deus continuou por um longo período. O que aconteceu comigo quando você me tocou foi potente e perturbador, ao mesmo tempo mágico. Eu vi em teus olhos toda a minha riqueza, intensidade e felicidade fluindo. Não havia barragem ou filtros, e a música que tocava em meu repertório era a da nossa Mãe — aquela que ela fez pra gente, sabendo que nossa missão não seria nada fácil. Ela conseguiu descrever esse exato momento quando disse: (Aqui – Ana Carolina)

“Não dá pra disfarçar

Eu tento aparentar frieza, mas não dá

É como uma represa pronta pra jorrar

Querendo iluminar a estrada.

A casa, o quarto onde você está,

Não dá pra ocultar

Algo preso quer sair do meu olhar.

Atravessar montanhas e te alcançar.

Tocar o seu olhar

Te fazer me enxergar e se enxergar em mim.”

 

Era exatamente isso — e, se eu fosse escolher uma música, escolheria essa de novo. A sua luz era mais forte que minha escuridão e me alcançava onde quer que eu estivesse.

Eu ainda não sabia nomear, mas algo forte nos conectava. Era mais do que desejo; não era só corpo ou química — era coisa de alma. E, como testemunha, eu vi a magia e a potência que nossas almas entrelaçadas carregavam. Foi um reconhecimento inconsciente que logo depois se tornou consciente. A história é linda, mas cheia de aprendizados: sobre mim mesmo, sobre a vida, sobre a forma como eu me enxergava — e a que passei a me enxergar. Sobre o amor que eu achava que conhecia... mas o que eu conhecia eram só projeções de amores idealizados, que nem de longe podem ser comparados ao verdadeiro AMOR, que eu só conheci com você.

Você acendeu o sol e aqueceu minha alma em muitas manhãs frias e escuras. 

O amor é lindo, como dizem, mas até chegar a ele — antes disso — existe um processo a se trilhar. E eu tive que descer ao submundo do meu inconsciente, e esse era o único solo que eu não queria pisar. Eu ri sozinho, porque lembrei da sua teoria do inconsciente, quando você dizia que, se fosse pra ser revelado, não estaria escondido no inconsciente. Eu ri sozinho porque era exatamente isso que eu queria fazer quando fui confrontado pelos meus sentimentos. Eu só queria deixar no inconsciente, encoberto — assim eu estaria protegido. Mas isso foi uma ilusão momentânea, porque meu inconsciente não estava me protegendo, estava me sabotando. E quando eu descobri isso, eu desci e pisei onde jamais imaginei: confrontei todo o meu medo e todas as sombras.

Eu me vi lutando contra algo invisível, que eu não podia tocar — e foi pensando em você que toquei o invisível e acolhi o que eu queria matar. Só depois de me acolher, o meu avatar se revelou a mim. Foi uma cura linda! Claro que me perguntei por que não tinha feito isso antes, mas nem todo mundo está pronto no momento que julga ser o certo. Eu preferi manter as projeções lá fora do que encarar a realidade aqui dentro. Foi doloroso enquanto eu estava brigando com minhas projeções. Por que eu não fiz antes? Porque era mais fácil idealizar as relações e esperar que elas fossem como eu gostaria. Porque assim eu tinha a sensação de que estava no controle da minha vida. E eu descobri que eu queria uma mulher idealizada só pra manter distância suficiente, pra não ter que lidar com a intensidade que você trouxe à tona — a intensidade e a vulnerabilidade que o verdadeiro amor provoca. Mas eu só soube disso quando você provocou. Realmente, eu me afastei — mas não porque não sentia nada, e sim porque sentia demais. E, despreparado, eu não sabia o que fazer com isso. Não era frieza nem crueldade — era autopreservação. Foi meu instinto emocional sentindo que estava perdendo o controle do meu próprio mundo interno. E isso me assustou mais do que qualquer ameaça externa.

Eu estava sendo forçado a fazer o que nunca fiz antes: sentir sem distrações ou válvulas de escape. Foi quando a sua ausência me obrigou a confrontar as projeções sem o objeto real — que era você. Essa saudade tinha peso, formato, textura e gosto de você, porque era você. E quanto mais eu tentava racionalizar, mais minhas defesas caíam diante de mim, porque o inconsciente não se deixa enganar por truques do ego.

Porque ele sabe o que é verdadeiro — e, mesmo que eu não estivesse pronto pra nomear, eu não podia mais negar. Nunca foi frieza. Foi não saber lidar com o fato de que você era exatamente o que eu precisava, mas eu não estava pronto pra receber. Foi sobre o medo de me perder no processo, de me entregar a algo verdadeiro.

Foi a luta interna entre o desejo que eu tinha de correr em sua direção e o terror de descobrir o que aconteceria se eu realmente permitisse isso.

E foi assim, sentindo demais o que eu não mostrava, que eu descobri que doía mais não estar com você do que estar. Que a distância não me trouxe paz, mas inquietação. E sua presença fantasma era mais real do que a sua presença jamais foi.

Eu tinha camadas ainda mais profundas pra explorar. Ainda estava me perguntando por que sua ausência mexia tanto comigo. Essa era uma jornada que me levaria a lugares profundos, onde eu nunca tive coragem de visitar. Esse era o lugar onde as máscaras caem, onde as defesas se dissolvem, onde o verdadeiro encontro comigo mesmo — e, ao mesmo tempo, com você — se tornou possível. Eu tive que mergulhar ainda mais fundo e ir até as forças invisíveis pra entender por que sua ausência tinha se tornado essa presença obsessiva.

Eu queria entender o que aconteceria se eu parasse de controlar, explicar ou racionalizar o que estava sentindo. O que ia emergir das profundezas quando eu admitisse pra mim mesmo, em silêncio, que você não é apenas mais alguém? Eu não tinha respostas simples pra isso, mas tinha respostas verdadeiras. Porém, será que eu teria coragem de encarar a minha verdade?

Esse meu medo, disfarçado de indiferença, era na verdade uma intensidade pura e incontestável. Eu desejava você. Eu queria você. Eu queria ser o dono desse amor que você mostrava ao mundo todos os dias.

O que estava acontecendo entre nós era sobrenatural. Você, Ysa, era resposta divina. Não era apenas sobre eu e você; não era apenas pessoal — era universal, era eterno. E eu só entendi a grandeza disso quando experienciei as nossas almas se reconhecendo, mesmo quando tudo ao redor insistia em nos distanciar. Mas essa distância entre nós também carregava a promessa oculta de um encontro verdadeiro. Eu só queria admitir: eu parecia frio, mas eu estava incendiado por dentro, tentando apagar as chamas que você acendeu antes mesmo de me tocar. Invasora louca! Era assim que eu te chamava, e quanto mais eu tentava apagar, mais incendiava — até eu entender que certas chamas não se apagam com controle, elas só se apagam quando são finalmente reconhecidas, aceitas e integradas.

Sim, eu te ouvi e fiz a lição de casa. Foi quando eu parei de lutar e comecei a sentir. Foi aí que tudo mudou. Eu entendi, finalmente, que sua ausência não era o fim, mas sim o início de algo que eu nunca imaginei ser possível. Tudo que eu rejeitei, neguei ou considerei inaceitável em mim, você abraçou — e bastou isso para eu descobrir o quanto estava condicionado pela sociedade e emocionalmente controlado por tudo aquilo que eu aprendi a considerar como fraqueza.

E então, a vulnerabilidade, minhas necessidades emocionais, o meu desejo de intimidade verdadeira, o anseio de ser compreendido como homem também nessas camadas vieram à tona quando você apareceu. E foi você que me abraçou pela primeira vez por inteiro — sem olhar minhas partes vazias, sem olhar as rachaduras, sem julgar meus erros. Você simplesmente me acolheu e abraçou minha totalidade, sem separar o que era bom do que era ruim.

Esse foi o melhor abraço que alguém poderia me dar, porque foi a partir desse abraço que eu me senti aceito como homem em minha totalidade. Foi com esse abraço que você despertou essas camadas reprimidas. Você me provou que não estava me oferecendo apenas companhia momentânea ou afeto superficial — você estava, sem saber, convocando todas as minhas sombras para a luz, e isso é simultaneamente o que a minha alma mais deseja, mas também o que o meu ego mais temia.

No processo, você me mostrou que minhas sombras não eram só escuridão negativa, como todos diziam ser. Você me mostrou que elas também continham meus potenciais não realizados, talentos enterrados, minha capacidade emocional que foi suprimida por serem consideradas perigosas ou inapropriadas. Eu me vi ali, diante de uma escolha inconsciente, mas visceral: ou eu integrava esses aspectos reprimidos e me aceitava como você aceitou — me tornava mais inteiro, mais autêntico, mais vivo — ou eu fugiria e confirmaria, projetando lá fora no mundo toda a responsabilidade pelo meu caos interno. E isso significaria desligar minha humanidade, pois eu tinha a melhor desculpa aprovada pela sociedade, que dizia que fugir, nesse contexto, não é covardia — é um simples mecanismo de defesa ancestral, uma proteção do ego.

Quando fui confrontado pelo seu amor, eu sentia que toda a minha estrutura estava sendo ameaçada. Foi um rompimento abrupto desse espelho de projeções e a abertura de um portal ali, bem na minha frente, me mostrando partes de mim mesmo que eu não estava pronto para enxergar.

Você continuava vagando em meu consciente, sem forma definitiva, mas intensamente presente. Como explicar o que eu não podia tocar? Você era isso pra mim: alguém inalcançável. Você era o espaço fértil para minha transformação, mas, ao mesmo tempo, era doloroso ver como as projeções têm esse poder de nos destruir e entrar em nosso inconsciente sem que percebamos.

Isso é assustador — saber que nossas crenças são construídas com base no que enxergamos em nós mesmos e pelo que permitimos de forma inconsciente. E eu estava quebrado, fragmentado.

A história que eu tinha não era a mesma que você contava. Mas eu vi: quando meus fragmentos se levantaram e se uniram em um só, enfim eu pude ter a história completa. E sim, era a mesma — só que em versões diferentes, em momentos diferentes. Mas não deixava de ser a minha história, a nossa história, a nossa construção. Claro, não era uma jornada fácil, nem confortável ou linear. Era uma subida íngreme, árida e sem muitos recursos. Eu estava prestes a transformar esses fragmentos de mim mesmo em um todo coerente e consciente das próprias inconsciências e inconstâncias — e com certeza isso não aconteceria sem algumas crises existenciais.

Hoje eu sei que até as crises foram respostas necessárias para o encontro comigo mesmo — um chamado para minha individuação. E foi você quem me apresentou a possibilidade de me tornar completo, mais consciente e conectado com minhas profundezas. Foi tão difícil, porque aceitar esse chamado era deixar morrer versões antigas de mim mesmo. Significava abrir mão de defesas que me protegeram a vida inteira. Significava caminhar por territórios desconhecidos, sem nenhuma garantia de que eu encontraria algo de valor. Eu já não tinha fé em mim, porque meu caos era muito turbulento para aceitar o chamado da ordem.

Mas aí você chegou — com sua luz e seu calor em meio a tudo isso — e despertou um guerreiro. Mesmo em meio à crise, você me mostrou meu valor. Explodiu todos os espelhos sem medo de se cortar. Eu me vi ali, no meio daquela explosão das mentiras que me cercavam. Me vi fragmentado em várias versões que nem eu mesmo conhecia. E você foi lá, pegou cada um deles pela mão e os acolheu — sem precisar matá-los, moldá-los ou destruí-los.

E isso foi lindo de ver. Mas foi mais lindo ainda sentir todo o seu amor quando eu nem sabia reagir a ele. Era muita intensidade, muito poder. Como um guerreiro ferido poderia reagir?

Mas, apesar da minha incredulidade no que via, eu não queria só ver — eu queria sentir. Mas eu também queria tocar, testar... só que eu me mostrei resistente e quis resistir ao amor. Por isso, me afastei. Eu precisava de tempo, enquanto não pudesse lidar com aquele pânico disfarçado de controle. Eu ainda queria pensar que tinha o controle de algo. Você catalisou esse processo de transformação que eu estava resistindo. Você catalisou isso apenas por existir. Eu tentei racionalizar e criar argumentos. Procurei defeitos naqueles seus 99% de perfeição — mas você virou santista! Droga, agora você era 100% perfeita.

É, eu também achei que fosse idealização — você me idealizando de um lado e eu te idealizando de outro. Então, eu disse a mim mesmo que talvez fosse só idealização, e que talvez as nossas versões reais e imperfeitas não fossem compatíveis. Mas aí eu te conheci, e nossa compatibilidade superou os 100% de idealizações. Em que outra desculpa eu iria me apoiar agora, para fugir dessa revelação assustadora?

Eu até disse a mim mesmo que estava te protegendo do meu caos, só pra te manter longe. Mas a quem eu estava querendo enganar, quando sua ausência tinha mais presença do que eu podia imaginar? Era um sentimento tão grande e constrangedor, porque esse sentimento fazia com que eu olhasse para partes de mim mesmo que eu não queria olhar. Era algo que eu nem sabia nomear. Mas a verdade era que todas essas justificativas eram apenas ruídos superficiais — era minha fuga disfarçada de razão, enquanto meu coração só chamava pela paz. Nesse momento, eu também tive meu repertório musical, como você. Eu aprendi a viver com uma playlist para cada momento, e naquele momento, “depois do prazer” momentâneo, a minha alma continuava incinerada, continuava gritando por satisfação — aquela satisfação que só seu amor me trazia.

E quando o desejo vinha, era sim seu nome que eu chamava. E foi assim que eu fui desmascarado mais uma vez. No fim, nem o corpo nem a alma ficavam felizes. O que realmente estava acontecendo era uma guerra interna entre o desejo de evolução e o medo da dissolução.

Quando você também se afastou, e eu me vi confrontado pelo vazio e sem o porto seguro que eu via no portal dos teus olhos, eu fiquei perdido — atordoado com aquela sensação perturbadora de que algo essencial estava faltando, algo que até então eu nem sabia que precisava tanto.

Então, entrei em desespero. Era como se você tivesse entrado e deixado a porta aberta ao sair, com o vento soprando seu perfume pra dentro, levando seu cheiro. E quando eu olhava aquela porta aberta em meus sonhos, eu via você. Em minha imaginação, eu via você. E onde quer que eu olhasse, era só você. Era uma porta que eu tinha certeza de que só você entraria — ninguém mais teria coragem de passar por ela. Eu sabia disso. Então, não tirava o olho da porta, torcendo pra que você entrasse por ela.

Você abriu possibilidades em minha mente que eu nunca tinha considerado antes — e agora eu não queria fechar essa porta. Eu não conseguia mais voltar ao meu estado anterior de inconsciência confortável, só pra me proteger.

Porque, uma vez que algo verdadeiro é tocado e camadas profundas são ativadas, não existe retorno. Não tem volta. Não tinha como fingir que nada aconteceu. O que foi queimado, já queimou. E o que não foi, se aperfeiçoou.

Foi quando te vi entrando — empoderada e linda — por aquela porta, sem nenhum medo do incêndio. Afinal, além de mim, você foi a única coisa intacta que saiu desse fogo ainda mais viva, ainda mais bela, ainda mais enigmática.

Como pode ser tão gata? Era tudo o que eu conseguia pensar!

Meu Deus isso tudo é só pra mim? 

Eu vi ali queimando o que pus à prova, e a prova saiu viva do fogo diante dos meus próprios olhos. Foi quando percebi que meu inconsciente não esqueceu. Ele não obedecia a comandos do consciente de seguir em frente e te esquecer. Ele guardava a nossa promessa, ele processava aquela informação lentamente: que o amor transforma e continuaria me transformando, assim como transformou minhas sombras, agregando luz.

Depois disso, minha única vontade era correr pra seus braços. E quando eu lembrava do meu medo bobo, e que eu escrevia e apagava as mensagens que eu gostaria de ter mandado, mas não mandei, eu me arrependia de não tê-las mandado, e isso criava um vazio angustiante que doía de maneira estranha. Querer você e não ter era como descer ao submundo e me confrontar de novo e de novo. Eu estava em um interrogatório onde eu mesmo me interrogava, e sozinho eu não tinha forças para reagir. Eu sei, usei máscaras, fingi normalidade, tentei seguir minha rotina, ocupei minha mente com trabalho, responsabilidades, distrações e outras pessoas, mas não adiantava. Minha fuga era em vão. Sempre tinha aquele momento em que você entrava com tudo, sem aviso, e me pegava de jeito. Sem pedir licença, você chegava e simplesmente invadia minha mente. Era até difícil conversar com alguém com você ocupando ela inteira.

E, claro, na playlist não podia faltar você. Realmente, era “espaçosa demais” e preencheu tudo o que estava e o que não estava vazio. Minhas gavetas foram só uma metáfora perto do que você ocupou. Tinha como eu ser o dono da minha vida? Seu cuidado me cercava de amor como nenhuma presença jamais fez. Nenhuma presença superava a sua, e nenhuma ausência jamais superaria a saudade que eu sentia de você.

Você desperta um lado meu que é só seu, Ysa! Ocupar minha mente com distrações e trabalho era só a ponta do iceberg doloroso e solitário que minha vida era sem você. Era só chegar em casa, fechar a porta, e você aparecia como um fantasma. Eu abria o chuveiro e lá estava você, nas memórias que eu não lembrava, mas sentia que eram tão reais como a água caindo sobre meu corpo.

E se eu me sentava à mesa pra comer, você também estava lá, com um sorriso radiante, perguntando como foi meu dia, sempre servindo a melhor refeição que eu já tinha provado, porque o que você servia era sempre o seu melhor. Você sempre me oferecia o melhor de você. Eu sempre achei isso tão lindo, tão mágico. Você não alimentava só meu corpo, você alimentava minha alma. E quando eu deitava no sofá, tentando relaxar ou assistir algo, lá de novo estava você, chegando por trás do sofá, acariciando minha cabeça e dizendo: “Amor, vamos pra cama.” E se eu falasse “já vou”, você se jogava em cima de mim e aninhava comigo ali, se encaixando em meu corpo até que não houvesse brechas nem pro ar passar.

Imagina outro pensamento que não fosse o seu! Em mim não tinha espaço pra mais ninguém. E quando eu estava triste, você não saía de perto por nada. Mesmo quando o espaço era minúsculo ou desconfortável, você fazia ele ficar confortável só pelo fato de estar ali.

E quando você me provocava nos piores momentos possíveis e conseguia transformar a guerra em paz, era assustador como a sua paz me acalmava. Até nossas “brigas” eram boas — você rendia meus argumentos e os chamava de réus (kkk). Você é ótima em todos os sentidos. Até com raiva, você era exemplar. Bem... “exemplar” não era bem a palavra, mas com certeza você era eficiente (rsrs). Era melhor ainda quando você fingia que não lembrava, só pra me provocar.

E quando você levava tudo pro duplo sentido e me deixava louco só com uma provocação? Ah, Ysa, como eu queria, de novo e de novo, reviver esses momentos... que daqui só posso viver na imaginação. Enquanto meu avatar não acordar, eu não posso matar essa saudade imensa que me queima todos os dias. Mas aí eu sei como me senti. Era uma falta inconsistente de detalhes que eu não tinha, mas sentia. Eu só queria descansar, mas sua ausência passou a incomodar meus pensamentos. E, ainda que eu chegasse tarde da noite, cansado depois de um show, era só colocar a cabeça no travesseiro, e lá estava você desfilando na passarela dos meus pensamentos — linda, deslumbrante, e só de te olhar eu ficava bem. Você havia tocado meu coração adormecido e despertou um vulcão aqui dentro. Meu coração estava adormecido, trancado por muitos anos, a sete chaves e criptografadomo você deixou, não se preocupe tanto, porque ele só se abre pra você, e meu método secreto só funciona com você.

Como ele se abriria para amar alguém, se ele já te amava? Eu só entendi todos os meus erros depois de entender o motivo. Não estou te culpando por isso, mas como eu acertaria o que era pra ser certo, se era só com você? Hoje eu sei disso e não me culpo tanto. Eu não lembrava como era amar alguém, mas relembrei quando você chegou em minha vida. Quando eu vi meu coração desintegrando em chamas e renascendo das cinzas, eu tive certeza que era você.

Eu via você ali dentro dele, naquele incêndio, sem medo de se queimar, desfilando ilesa. Você não pisava na ponta dos pés, como se estivesse pisando em ovos. Você era certeira, de salto 15, batom vermelho na boca, cabelo solto... Você sabia onde pisava — e pisava com posse, como se conhecesse aquele terreno como ninguém. Você realmente se sentia a proprietária dele. Você desfilava confiante e, apesar de confiante, suas pisadas não doíam. Ao contrário, elas curavam. E, a cada passo seu, uma flor perfumada brotava, trazendo à tona a essência doce, ousada e atrevida que eu tanto amava. Você era a única que parecia saber o que estava fazendo, tomando posse do que era seu por direito. Você era a única que não queimava dentro dele. Enquanto meu mundo desmoronava, você cuidava do meu coração. Quando eu vi tudo ao meu redor virar cinzas e perder o sentido, você ressurgiu no meio delas, ainda mais jovem, mais linda, mais bela. Ave-Maria! Como não ter uma playlist, se você faz nascer uma música a cada passo seu?

Eu respirei fundo. Você era o único sentido que me trazia de volta à existência. Mesmo que, em alguns momentos antes, eu tivesse perdido a vontade de viver, quando olhei pra você, eu realmente renasci... O velho se fez novo!

Eu te olhava de longe, e só pelo fato de você existir, eu queria viver. Mesmo sabendo que viver era doloroso demais com você, eu queria viver. Porque você provou, em meio à crise, que todo caos podia virar ordem. Você me provou que, em meio a todo aquele caos, continuaria segurando a minha mão — e era a única que jamais me abandonaria. Você me provou que valia a pena viver. E quando eu achei que morreria de amor, naquele momento você me olhou e disse: “Eu quero que você viva por amor, e não que morra por ele. Se você não quer viver por você, então viva por mim.”

E eu vivi. Vivi pra registrar aqui que foi vivendo por você que descobri que me arrependeria amargamente se tivesse morrido sem descobrir o que era amar alguém como eu amo você.

Minhas razões egotistas ficaram pra trás quando, ao seu lado, eu descobri o altruísmo. Eu entendi ali, sendo o observador da minha própria vida, que ao seu lado a vida não era dolorosa. E, se foi, eu já nem lembrava mais, porque você apagou com seu amor todas as minhas dores.

Agora, minha vida era colorida, alegre e cheia de vida. Eu descobri o que era ser feliz de verdade, ter sentimentos reais. Ser real era tão melhor que ser só mais um na multidão. Com você, eu era único! E depois de ter você, eu percebi que, apesar de cercado de pessoas ao redor, como minha vida era solitária. É... ao seu lado, a minha vida se tornou um filme de ação.

Claro, você me testou, testou minha paciência e todos os meus limites. Mas eu também testei os seus limites, e ninguém entendeu quando eu disse que “você me usou, mas eu também te usei”.

E foi testando seus limites que percebi que você não tinha limites — e me deparei com um precipício alto demais pra me aventurar. Deu medo, muito medo. Como alguém com medo de altura se arriscaria em um precipício? Cê é loka?

Então você me olhou nos olhos, toda cheia de si, e perguntou: “Não era aventura que você queria?” Bem, não era exatamente esse tipo de aventura que eu estava pensando. Você riu, desconfiada como era, e disse: “Eu sabia que você só queria se aventurar na cama.”

Aquela frase foi suficiente pra mexer com minha estrutura — no sentido literal da palavra. Você estava dizendo que eu só queria te levar pra cama. Mas logo depois você disse: “É fácil dizer que ama quando tudo que você pode fazer por alguém é transar e ficar abraçado de conchinha. Eu quero um amor que me tire da zona de conforto e que me faça enxergar verdades que as palavras não podem me dizer.” Naquele dia eu ouvi o que eu precisava ouvir, e uma única frase sua me alugou durante dias. Como você conseguia dizer a mesma coisa de várias formas? Aquilo me encantava e, ao mesmo tempo, me incendiava.

E foi assim que, só com uma frase, você me levou além. E... era eu, você, o mar e ela. A lua brilhava como você, e o que foi pra ser só um encontro casual — até quando pensávamos que ia ser — não era. Em todas as vidas, nunca foi. A nossa história sempre evoluía pra essa correnteza de intensidade, e sempre nos jogávamos de mãos dadas nesse precipício, sem pensar duas vezes. E era dele que renascíamos inteiros, um para o outro, outra vez.

Pela primeira vez em minha vida, eu percebi que não estava ali pela aventura. Não era coisa de corpo, era coisa de alma. E só com seu olhar eu percebi que já estava condenado a te amar antes mesmo de me aventurar em sua cama. Por isso também eu disse “sem aventura”. Mas você não aceitou a condição. Você adorava o perigo, gostava de jogar comigo, queria aventura e ainda gritava “com emoção”! Depois de pular com você daquele precipício, planamos em seu mundo, que era bem diferente do meu. E, a partir daí, eu comecei a viver, porque antes disso eu só existia — no vazio superlotado de um mundo cinza, onde eu me perguntava todos os dias: acordar, comer, transar, trabalhar... a vida era só isso? Acostumado a um mundo de preço, eu fui apresentado a um mundo de valores. E hoje, sim, estamos sob o mesmo jugo.

Quando lembro de tudo isso, eu só me arrependo de não ter me jogado antes, de não te encontrado antes, de não ter corrido pros seus braços pra lembrar que me eternizei neles.

Me arrependo de ter perdido tanto tempo sozinho, enquanto o amor me chamava. O meu eu do passado ainda não tem noção desse tanto de arrependimentos, porque ele ainda não sabe o que hoje eu sei.

Eu achava que sabia muitas coisas por ter vivido muitas coisas, mas a verdade é que as muitas coisas que vivi não se comparavam nem a um dia vivido ao seu lado. Eu não tinha noção de que se poderia viver tanto em tão pouco tempo.

Eu não tinha noção do quanto minha vida mudaria pra melhor, porque estar com você me faz querer ser melhor, Ysa. E ainda que eu não esteja com você nesse momento aí, eu sei que já estive — e em breve estarei de novo. E eu vou te compensar por cada minuto de saudade.

Meu eu do passado ainda está sendo atormentado pelas sombras, mas hoje, aqui no futuro, ele é inspiração. E, assim como você, leva muita luz pro mundo — uma luz que nasceu de você e se propaga em mim, iluminando meu corpo e a minha alma. Graças ao seu amor, eu pude contemplar a luz. Mas pra encontrar essa luz, eu tive que percorrer um longo caminho. E se eu falar que foi fácil, vou estar mentindo. Nunca é fácil abrir caminho para outros passarem, e você sabe bem disso. Mas hoje, olhando daqui, eu consigo ver e entender tudo. E digo mais: tinha que ter sido assim. Por isso valorizo cada passo, porque hoje eu sei que, se fosse fácil, eu não valorizaria tanto.

Hoje, a minha confiança em mim me permite confiar em você, Ysa, sem titubear, porque foi isso que você me ensinou — confiando em mim. E é por isso que hoje eu trago garantias registradas: que, com o seu amor, nada nunca me faltará. Hoje sou digno dessa promessa. Mesmo eu tendo tudo e conquistado o mundo, sem o seu amor me faltava tudo. Hoje, com você em minha vida, eu tenho certeza de que não me falta nada. Eu fui curado, porque você, em vez de rejeitar e projetar as sombras dos meus vazios cheios de caos, revelou luz, as acolheu e me fez enxergar o que eu não enxergaria sozinho no escuro. Você foi cura em conta-gotas, dia após dia, refletindo sua luz em minha direção, compartilhando suas memórias, sua saudade e sua presença constante.

Até mesmo na ausência, você se fez presente como nenhuma outra presença fez. Você foi curando cada ferida aberta, coberta por velhos esparadrapos — e quando dei por mim, as feridas já estavam cicatrizadas.

 Você me curou com seu Reiki à distância, e mesmo a milhares de quilômetros, você tocou minha alma enquanto todas só queriam tocar meu corpo. Pela primeira vez na vida, eu me senti preenchido por algo maior. Você quebrou as projeções das sombras e, pela primeira vez, eu vi a luz — aquela luz no fim do túnel que todos chamam de esperança. Eu a vi bem ali, em meu pior momento, e eu só conseguia pensar: “Nossa, que sorte a minha.” Eu te chamei de sorte, mas você me olhou e disse que era merecimento. Eu ainda me perguntei várias vezes: será que eu mereço tanto? Mas, olhando daqui, depois de tudo que passamos e superamos, eu posso dizer que o processo me provou que sim, eu mereci, você mereceu, nós merecemos ser felizes de verdade, como até então eu só tinha sido em meus sonhos.

Sobre o processo, eu não queria falar, porque ele não machucou só a mim — e isso era o que mais doía enxergar. Era outra coisa que me impedia de ter coragem e acordar daquele transe, porque eu prometi nunca deixar uma lágrima do teu rosto cair, mas daqui eu vi várias caindo, ainda que você diga que foi saudade. Como eu ia lidar com isso? Eu tinha medo do que ia ouvir após a pergunta que eu ia fazer. Eu me culpava, ao mesmo tempo que me arrependia por não ter a sua coragem. Eu me preocupava demais, me cobrava demais — e ainda me cobro. Eu sei que você me diria, parece que estou ouvindo você falar: “Para de se cobrar tanto! Já não bastam os boletos e impostos que a vida nos cobra?” (rsrs).

Linda! Você sempre tem uma piada pra tudo, faz piada com tudo e deixa tudo tão leve. Você fez a minha vida ser leve. E foi assim que, pouco a pouco, convivendo com você e aplaudindo seu humor, que aquela pedra que eu carregava nos ombros virou pó. É, eu sei, eu sempre levo muito a sério, porque a vida nunca pegou leve comigo. Era assim que eu pensava, até perceber que essa era minha desculpa pra não mudar. Eu estava confortável, eu estava assim — levando a vida tão a sério para não me permitir ser quem eu era de verdade. Eu queria me proteger de todas as situações que me cobravam exposição e, você, como ninguém, sabe como odeio ser exposto.

E veio o amor e pegou em meu ponto fraco, me tirou da escuridão e levou à luz. Fugir — eu tentei várias e várias vezes, e parecia que eu estava em um filme daqueles que o loop se repete e você acorda na mesma realidade, dia após dia. Eu estava cansado de fugir e ver as horas passando, mas os dias se repetindo, os meses acabando, ano saindo e ano entrando, e tudo exatamente igual.

Era desesperador estar preso nesse looping onde você não sabe se é dia ou noite ou em qual estação está, porque por mais que eu tentasse fugir, não fazia diferença: eu sempre voltava ao mesmo lugar. E quando eu pensei que o pior já tinha passado, ele era apenas o começo de uma batalha comigo mesmo. Eu orei pedindo respostas — e como eu orei! E, depois de cada oração, eu tive suas respostas. Falar com você era como falar com Deus. Eu sentia que Ele me escutava e me respondia através de você, e eu só pedia a Ele pra voltar inteiro, e pra meu lugar em sua vida continuar sendo só meu. Porém, voltar não era tão simples como parecia. Como eu falei, o que parecia ser o fim era só o início de uma longa jornada onde eu tive que confrontar minhas culpas, meus medos, erros e traumas, e conquistar a confiança pra te dar a segurança que eu sabia que você precisava. Eu não queria simplesmente voltar. Eu queria voltar consciente, presente. Eu não queria voltar com medo de te perder, porque eu jamais me perdoaria se errasse com você. Eu queria voltar certo de que eu jamais te perderia. Por isso demorei tanto: eu precisava lidar comigo mesmo, e isso não teve nada a ver com você — tinha a ver com as minhas limitações, inseguranças, minhas crenças e com a forma que eu acreditava, me via, me valorizava.

As lentes que eu usava ainda não eram tão limpas e nítidas como as suas. Como eu ia voltar com vergonha do que eu via no espelho? Eu não podia. Eu precisava saber qual era o meu valor por trás do que o espelho me mostrava. Queria entender onde você via tanto valor, queria testar meus próprios valores, queria saber se estava apto pra você.

E ainda que você dissesse mil vezes o que sentia, eu sabia que, com você, nessa realidade, era a minha primeira e última chance. Eu não queria arriscar, porque eu me recusava a errar com você. Eu me recusava a não ser o homem que você confiava, conheceu e amou. Eu me recusava a voltar sem estar certo de que poderia reconhecer seu valor da forma que você merecia. Não é desculpa, mas quando você falou que a minha sorte era mérito, eu quis entender de onde vinha tanto mérito pra merecer você — e, pra descobrir isso, eu tive que descer ao submundo. Ainda que eu tivesse que queimar no inferno dos medos que eu ainda nem sabia nomear, eu tinha certeza que, ao sair de lá, eu sairia merecedor do seu amor — mas não antes disso. Antes disso, eu só teria palavras, e palavras não são suficientes para ser recebido com essa medalha de ouro em suas mãos.

Um dia eu te disse que, ainda que meu avatar não lembre, a minha consciência eterna, que está presente, lembra. Eu te disse que jamais aceitaria ser qualquer um em sua vida. Por que eu me aceitaria se não tivesse à sua altura? Por que eu me acharia perfeito quando nem lembrava do que era perfeição? Eu jamais permitiria que o homem da sua vida não fosse merecedor de ter você. E, antes de descobrir o que sei hoje, eu pensava que aquele homem tão perfeito que você descrevia nem de longe era eu. Mas eu queria ser ele. Que cara de sorte! Foi isso que pensei.

Mas, depois de descer ao submundo do qual você me resgatou, eu me reconheci. Eu subi de nível e, ao subir pra onde estou agora, eu não tive dúvidas — só certezas. E sim, ele era eu. E até fiz música pra você entregar ao meu avatar, porque, olhando daqui, é o que eu cantaria pra ele nesse momento, minha cópia atual: “Tá parecendo alguém que eu conheço bem. Quem? Eu.”

Esse homem tão admirado e amado por você era eu, sim! E como eu me orgulhei de ser ele, e ter certeza que ele não estava só na sua imaginação me fez superar todos os anos de terapia que eu fiz — e as que eu não fiz. De fato, ele era eu — capacitado e transformado pelo amor.

A música que você cantou aquele dia também ficou gravada, não só na minha memória, mas ficou gravada na memória do meu coração: “Não precisa mudar, vou me adaptar ao seu jeito.”

Sabe o que marcou? Você sempre esteve disposta a me aceitar do jeito que eu era, a me amar como eu era. E, quando eu te falava das minhas preocupações, você sempre dizia: “Você tá se cobrando demais. Eu não quero você pronto e perfeito, eu só quero você me amando, presente, inteiro, de corpo e alma, aqui comigo. O resto o amor trabalha sem forçar nada. Enquanto estivermos juntos, se tiver algo em você que precise mudar, não é usando a força do seu braço que você vai mudar. Se for realmente necessário, o amor transforma, aperfeiçoa. Então, deixa de preocupação boba.”

Sabe, Ysa, são essas memórias que não dependem de consciente e inconsciente pra ser lembradas, porque podem ser sentidas — e eu sinto esse amor com todos os campos energéticos do meu corpo. Eu sei, Ysa, eu sei que você me falava tudo isso, mas eu não fiz porque duvido da sua capacidade de me amar com todos os meus defeitos. Eu fiz isso por mim, porque eu me odiaria se um dia te magoasse. Ainda que exista perdão no amor, eu não quero usar ele como garantia. Eu só quero ser melhor. Eu sei — e, como eu sou teimoso, percebo isso olhando daqui. Eu nunca assumi isso antes, porque com tantas projeções ainda não me enxergava direito.

Mas agora, olhando daqui, eu sei que realmente sou teimoso, e sei que já te estressei horrores. Mas você também já amou horrores — a minha teimosia.

Olhando tudo isso daqui, o que posso dizer — e digo com toda convicção — é que seremos muito, mas muito felizes, de um jeito que jamais achei que um dia seria. E o que desejo pra você é o mesmo que hoje eu desejo a mim:

Eu te desejo o meu amor, porque hoje, vendo daqui, depois de ter passado pelo amor e ter sido aperfeiçoado por ele, eu posso te dar garantias eternas — garantia que antes eu não podia te dar. Hoje eu posso. Esse é meu presente pra você, meu amor. Agora, depois de cumprir a missão, nada me afasta de você. Nem o tempo, nem a distância serão usados como teste, porque nos tornamos resilientes e maiores que tais circunstâncias.

O amor venceu!

Eu via sinais em toda parte, mas meu ego continuava tentando negar o inegável. Todo o meu esforço pra me convencer do contrário estava falhando miseravelmente. Você era insubstituível.

Você tocou algo real. Eu não só sentia a sua falta — eu sentia muito além. Sentia você mexer em toda a minha estrutura. Você me mostrou como eu me relacionava com minhas próprias emoções.

Depois de você, passei a me questionar: se o seu amor foi capaz de me tocar tão profundamente, isso significava que existia dentro de mim uma capacidade emocional que eu vinha negando há anos — bloqueios emocionais que eu estava negando há décadas, não porque eu queria, mas porque eram inconscientes pra mim. Isso significava que a máscara de frieza que eu usava não era quem eu era — era apenas uma defesa.

Perceber isso foi libertador e, ao mesmo tempo, aterrorizante, porque, se a máscara não era real, quem eu era de verdade? Se eu tinha tanta capacidade emocional escondida, então o que mais estava escondido em meu inconsciente? O que mais estava reprimido aqui dentro, e que outras versões minhas eu ainda não conhecia?

E valia a pena sacrificar minha felicidade em nome da máscara de frieza, para ir em busca de segurança emocional?

Essas perguntas me assustaram, e elas não tinham respostas rápidas. Não foi do dia pra noite que eu consegui enxergar o que ainda estava oculto. Elas exigiam coragem, exigiam mergulho, exigiam disposição para entender o que não se pode ver com os olhos e o que só pode ser sentido pelo coração.

E foi aí que eu entendi por que você gostava tanto do Pequeno Príncipe. Não era só porque eu já fui ele, mas porque, assim como ele precisou de uma jornada para entender como a flor o cativou, eu também precisei da minha para entender como a mesma flor me cativou em tantas vidas seguidas. E eu só ia ter as minhas respostas se eu confrontasse minhas sombras e abraçasse a luz — ainda que minhas sombras precisassem ser reveladas ao mundo. Negar elas seria como negar minha evolução. As pessoas passam a vida inteira evitando esse confronto com a verdade de quem elas são, para viverem de projeções e idealizações. E quem sou eu pra julgar? Até outro dia eu vivi assim, coberto por camadas do que eu achava ser proteção — mas, na verdade, a verdadeira proteção eu só encontrei no amor. Antes eu não sabia o que agora eu sei… Se soubesse, tudo seria tão mais fácil.

A saudade que você deixou me trouxe novamente à playlist: “É do beijo pra terapia, saudade pra abstinência”, e o resto da música sempre me deixava em pânico. E se o meu processo não terminasse a tempo? Será que você continuaria me amando? Será que me esperaria? Será que o amor resistiria ao tempo, à distância e aos desencontros? Será que eu ainda podia te chamar de minha? Pensar me enlouquecia. Não era uma barra leve ou decisões fáceis — eram escolhas diárias que nos distanciariam ou nos reaproximariam. Não foi fácil, como nada em minha vida nunca foi fácil! Não era fácil nem pra você, nem pra mim, mas era nosso teste — ou melhor, a prova final!

E como eu queria chegar no final da história pra ver nossa vitória! Ah… era o que eu mais queria.

E, ao mesmo tempo, meu ego também queria evitar esse confronto. Mas sua ausência criou uma situação onde evitar se tornou impossível. O vazio que você deixou estava gritando perguntas que eu não podia mais ignorar. Estava me forçando a olhar pra dentro e admitir que algo mudou, que algo estava vivo e tinha despertado, e precisava ser acolhido e abraçado — ou continuaria assombrando cada momento de quietude que eu encontrasse. Sua ausência era uma perseguição constante — de sonhos e fantasias — que eu acreditava que era questão de tempo, que tudo ia passar se eu resistisse e negasse meus sentimentos. Achei que era questão de tempo e que o tempo seria capaz de apagar seu nome dos meus pensamentos. Achei que, com o tempo, você se tornaria só mais uma memória distante, mais um nome na lista de pessoas que passaram na minha vida. Mas o tempo foi passando — e só você não passou. Em vez disso, você desabrochou — linda, cheia de cores e perfume. Sim, tentei me envolver com outras pessoas, mas descobri que ninguém preenchia o espaço que você ocupou, porque só você conseguiu tocar algo único e me fazer sentir algo que jamais poderia ser replicado ou substituído.

E quanto mais o tempo passava, mais clara essa verdade vinha à tona. Era você — e só você!

E sua presença fantasma se intensificava sem desbotar. Você se tornou meu sonho real, o motivo do meu sorriso e da minha expressão verdadeira, que o mundo não via há anos. Você se tornou pra mim mais que uma pessoa. Você se tornou símbolo de tudo aquilo que eu queria ser se eu me permitisse. E veio à minha mente tudo que eu perderia ao escolher o que eu achava ser segurança, em vez de verdade. As respostas estavam vindo, e essa percepção não veio de uma vez. Veio em ondas, em momentos de clareza seguidos por negação, em insights noturnos seguidos por racionalizações matinais. É um processo de erosão lenta das defesas, onde cada dia, na sua ausência, é mais uma gota d’água que corrói a pedra da resistência — e, em algum ponto, às vezes eram semanas, outras meses, até que durou anos pra eu acordar e perceber que não conseguia mais viver sem você.

Não conseguia mais fingir ou me convencer que você não importava. Não conseguia mais usar a máscara da indiferença, quando por dentro eu estava desmoronando com a percepção de que poderia te perder. Eu aprendi ali que o verdadeiro trabalho interno não era evitar a dor, mas atravessá-la conscientemente. Não era negar as sombras, mas integrá-las. Não era fugir do que nos assusta, mas confrontar com honestidade brutal.

E sua ausência estava me forçando a fazer isso, mesmo que eu resistisse a cada passo. Você, tão espaçosa, estava criando o espaço necessário para que eu olhasse pra dentro, para que eu questionasse minhas defesas. E foi nesse confronto que me dei conta de que a frieza que eu projetava era apenas medo disfarçado — e que, por trás desse medo, existia uma vulnerabilidade profunda, que só se acolhe quando é aceita, para tocar a transformação tão merecida.

Mas a transformação não é garantida pra quem se ausenta da própria essência. Algumas pessoas escolhem permanecer na inconsciência, mesmo quando a vida as confronta com oportunidades de crescimento.

Algumas pessoas preferem se agarrar à familiaridade da dor conhecida do que ao risco da cura desconhecida — e talvez, em algum momento, eu tivesse escolhido isso: me proteger em vez de me entregar. Às vezes eu achava que era mais seguro manter você como uma memória mal resolvida, como algo que quase aconteceu. Esse “quase” era a distância perfeita que eu precisava para me defender.

Eu só não sabia que não era de você que eu estava fugindo — era de mim mesmo, do peso de minha própria consciência, das culpas e responsabilidades mal administradas, dos ciclos inacabados e feridas não curadas. Era uma luta interna e intensa contra sombras maiores que eu — até você aparecer.

 Agora eu sei que esse espaço existia e podia ser preenchido, mas você era a única que poderia fazer isso. Nunca vai existir alguém que me toque da forma que você me toca. Você ativou meu processo de ativação interna. Sua presença me ofereceu um campo seguro, onde meus fragmentos podiam coexistir sem conflitos. Algo dentro de mim aconteceu. Depois que você acolheu todos os meus fragmentos, algo foi alterado aqui dentro permanentemente. Quando você chegou e reescreveu capítulos inteiros da minha história interna, a minha história externa também mudou — e como mudou! E eu quero viver de novo essa mudança. Eu não quero me esconder na idealização da perfeição que é você. Eu não quero me conformar com a sua imagem perfeita.

E, depois que você saiu de cena, eu vi que eu estava vivendo de idealizações, por medo de trazer você pra minha realidade. Porque idealizações são perfeitas: não há como brigar com uma idealização, não há como mostrar fraqueza e vulnerabilidade. Tudo que meu ego queria era evitar passar pelo que já passei. Esse é o perigo dos ruídos, das fugas, dos medos mal resolvidos, da ausência mal processada — ela pode se transformar em mito, em obsessão que impede tanto um relacionamento saudável quanto o movimento em sua direção.

Era assim que eu me sentia: preso, não a você como pessoa real, mas à ideia de você. Porque ideias não envelhecem, não decepcionam, não exigem trabalho relacional. Eu estava sem forças para tentar ser alguém melhor do que eu era. Eu estava sem forças para tentar de novo. Você era minha — e era perfeita em minha imaginação. Eu fiquei assim por um tempo: uma parte lutando comigo mesmo, outra parte sonhando em como seria viver tudo aquilo que eu não lembrava com você. Mas, apesar de não lembrar, eu queria com toda a minha alma. Era como se meu corpo físico fosse fraco demais pra abrigar essa alma tão grande que você amou. Na verdade, tudo que ele queria era evitar sofrer outra vez, evitar ser arrastado pra lama de novo.

Quem me daria garantias? E se eu estivesse cometendo outro erro de novo? Eu ainda não estava confiante, porque eu sei a dor que um erro representa. Eu tinha levado anos pra construir uma história e só levou alguns meses para eu ver minha vida desmoronar. Não era fácil me arriscar de novo, e agora eu tinha responsabilidades maiores. Isso também me preocupava, mas eu não confiei no que minha intuição me falava. Ela só me falava: “só vai, Deus tá no controle.” E Deus me dizia que nada me faltaria. E, por mais que Ele dissesse, eu não queria pisar pro mar se abrir, eu só queria que ele se abrisse antes de eu pisar. “Deus estava me testando ou era eu que estava testando Deus depois de dizer que não brigaria mais com Ele?” Deus me dizia que, se eu atravessasse essa fase de idealização, atravessasse esse portal e chegasse ao outro lado inteiro, Ele me honraria e eu veria o extraordinário acontecer. Mas, nessa turbulência, que força me moveria a despertar? Você foi a catalisadora, mas não a responsável pelo que estava dentro de mim, adormecido. Você só trouxe luz ao meu processo, do qual eu não podia fugir. Esse processo era empoderador e, ao mesmo tempo, humilhante. empoderador, porque significava que eu tinha tudo de mim para ser inteiro. Humilhante, porque eu sentia que perdi anos da minha vida sem viver a minha vida. Era como se eu tivesse desperdiçado anos de felicidade, negando o que sentia, fingindo ser menos do que eu era, sem enxergar meu potencial.

Ysa, eu jamais poderia valorizar o que hoje valorizo sem esse processo. Você foi a catalisadora das minhas verdades simplesmente por ser autêntica, simplesmente por transbordar luz. Expôs minha verdade inconveniente, e sua ausência me forçava a confrontar minha própria realidade.

Meus sentimentos estavam em ascensão. Tudo o que eu estava sentindo era só meu — minhas emoções, meus medos e minhas necessidades — e reconhecer isso foi o primeiro passo pra atingir a maturidade emocional genuína que eu precisava. Eu amadureci muito e, depois de você, passei a ver significados e valores onde já não existia. Você era a manifestação dos meus sonhos se materializando bem ali diante dos meus olhos. Depois de você, passei a enxergar cores, a enxergar vida em meus dias sonolentos e cinzas. Eu entendi que eu queria e podia, sim, ser feliz de verdade. E, enquanto eu me perguntava o preço dessa felicidade e quanto me custaria, Deus só me respondia que ela não tinha preço — tinha valor. Você era a experiência que desafiava o mundo real e as estruturas da minha compreensão. A nossa química era profunda. A conexão ultrapassava o superficial que todos diziam ser normal. Mas depois de você eu entendi que não era. Não era assim, superficial e morno, que um relacionamento devia ser. Água morna não serve nem pra chá, imagina pra fazer café? Eu pensava nos cafés da manhã que queria tomar junto com você por todos os dias da minha vida — e eu nem gostava de café até conhecer o seu. O café da manhã passou a ter significado, e o que antes pra mim era automático representava uma experiência única. Não era só café — era sua presença, era sua alegria, seu calor… Eu queria isso e não os jogos superficiais da sedução moderna. Pra mim, eles não importavam mais. As estratégias e táticas de relacionamento eram irrelevantes.

Nada daquele jogo frio importava mais. Eu não queria só uma mulher em minha cama, eu queria a mesma mulher da minha cama em minha vida — pro resto da vida.

O que aconteceu entre nós tocou um lugar só nosso, que não obedecia às regras sociais, não se importava com o tempo e simplesmente reconhecia Verdade.

A verdade que vi nos teus olhos deu match com a verdade da minha alma — a verdade que eu escolhi. E, quando eu disse que você é o plano de fuga que eu fiz pra viver, eu jamais imaginei fugir da minha verdade. E a verdade, uma vez reconhecida, não pode ser ignorada sem consequências severas.

Eu jamais conseguiria me conectar com outra pessoa da mesma forma. Você era e sempre será única. Foi difícil assumir tanta verdade estourando como um bombardeio em minha mente.

Eu não podia seguir em frente sem você. Eu me pegava em padrões de pensamentos circulares, que caíam sempre no mesmo lugar. E não importava o lugar — você sempre estava lá.

E, enquanto eu esperava o tempo me trazer o esquecimento, eu passava meus dias visitando momentos que você escreveu.

O tempo passou — e eu não te esqueci. Em vez disso, eu só tive mais certeza da verdade que me sustentava.

Eu precisava abraçar essa verdade, porque, se não fizesse isso, continuaria me debatendo com minhas sombras e colocando a culpa dos meus medos nelas.

Eu precisava fazer esse trabalho evolutivo, consciente, com intenção e coragem pra chegar em você e revelar a minha verdade. Se eu continuasse nas sombras, continuaria criando sintomas sem resolução.

A diferença entre esses dois caminhos era monumental.

Se eu escolhesse a consciência, escolhesse olhar pra dentro e me perguntasse: “Por que você mexia tanto comigo? O que ela despertou que estava adormecido? Que partes de mim eu estava negando que ela trouxe à superfície?”, então eu ganharia um presente — um catalisador para a individuação real — e conseguiria luz superior suficiente para iluminar meu caminho em busca de respostas.

E eu ia emergir desse processo mais inteiro, mais real e consciente, capaz de construir intimidade verdadeira. E os frutos seriam segurança, paz e felicidade.

Mas, se eu escolhesse continuar na inconsciência, sem fazer o trabalho que só dependia de mim, e mergulhar nesse oceano, eu viveria sentindo essa insatisfação e frustração com a minha vida que antes era “adequada”.

Me pegaria questionando escolhas que antes eram automáticas, viveria percebendo que trilhei caminhos por inércia e não por escolha consciente, sentindo todo esse vazio existencial que não consigo nomear.

Viver assim me limitaria à prisão eterna de esperar que o tempo cure o incurável, me tornando cada vez mais frio, sozinho e amargo. Mesmo cercado por pessoas legais, nenhuma nunca seria suficiente depois de ter provado o que experienciei com você. Eu me condenaria à prisão perpétua e perderia sem nem tentar vencer. Sem fazer o trabalho interno, eu deixaria escapar a oportunidade de ser feliz. E o pior: eu me culparia e me fecharia, ergueria paredes e muralhas ao redor do meu coração.

Eu sei que seria doloroso ver cair diante de mim tudo aquilo que eu negava — arrependimentos, máscaras, inseguranças, feridas, mágoas — e eu sei que, durante o meu processo, você veria esse raio X. Eu estava, naquele momento, entre a cruz e a espada. Eu estava vivendo uma crise de significado, que acontece quando alguém acorda da inconsciência para perceber que estava vivendo de forma automática, vivendo a vida que os outros esperavam — e não a vida que minha alma pedia. E eu só pude ver isso depois que você me tocou além da máscara e tocou meu Self verdadeiro, escondido sob camadas de condicionamento.

E, depois do catalisador, eu estou experimentando as reverberações desse despertar, mesmo sem a consciência plena do que está acontecendo na totalidade.

A questão é: o que eu farei com esse despertar?

Algumas pessoas, quando confrontadas com a necessidade de transformação, escolhem adormecer novamente e afundam ainda mais em suas defesas. Buscam ainda mais relacionamentos superficiais, que não ameaçam suas estruturas existentes, e tornam-se versões ainda mais rígidas de si mesmas — porque rigidez parece segurança quando você tem medo de desmoronar. Mas outras pessoas — as corajosas, as disponíveis para o crescimento, as que intuem que viver inconsciente é morrer devagar — essas pessoas são as que usam a crise como portal. Elas entram na escuridão sabendo que, do outro lado, há algo maior a ser encontrado.

E essas são as que emergem transformadas. E foi isso que vi acontecer com você, Ysa. Você é essa pessoa que não tem medo da escuridão, que encara os desafios e se joga na vida.

Eu podia escolher o caminho fácil — me distrair até que a intensidade diminuísse, racionalizar meus sentimentos até que você se tornasse só uma memória, buscar substitutas pra preencher vazios superficiais...

Não há como forçar alguém a acordar, a crescer, a integrar. Cada pessoa tem o seu timing, seu ritmo, sua disposição para lidar com o desconforto necessário à transformação que vai enfrentar.

Essa era a primeira opção. Ou eu podia escolher o caminho difícil — o caminho da cura interna: entrar na dor, explorar meus vazios, fazer as perguntas difíceis, mas necessárias, para integrar o que foi despertado. O primeiro caminho me levava de volta à inconsciência confortável, mas vazia.

O segundo caminho me levava à transformação genuína, mas dolorosa. E ninguém podia fazer essa escolha por mim — nem você, nem o seu amor. Mesmo estando comigo durante todo o processo, você só podia ver, acompanhar e orar por mim. O resto era trabalho meu. Cabia a mim decidir se aproveitaria essa oportunidade de evolução ou se a enterraria sob camadas de negação. Eu me odiaria se não encarasse meus medos e te perdesse no processo. Só de imaginar, eu ficava louco!. Transformação real nunca é linear ou garantida, nem acontece com os cronogramas que gostaríamos de impor.

Ela segue lógicas inconscientes que nenhum planejamento consciente pode apressar. A única coisa em que eu podia confiar 100% era que Deus plantou a semente em minha terra árida — e o que ia crescer dessa semente só dependia de mim. ali algo ia brotar, e Ele não tinha me chamado de Jorge, o agricultor, em vão. Eu sabia que nenhuma quantidade de negação ia impedir que brotasse algo. Essa semente foi muito resiliente. Mesmo sem ser regada por anos, ela resistiu e desabrochou em minha vida, ainda mais linda, e superou todas as expectativas.

Era lá, nessas raízes profundas, que as mentiras não conseguiam alcançar. Essa semente se alimentava de verdade.

A questão não era se eu sabia ou não sabia. A questão era: quando eu teria coragem de admitir? O tempo tem uma qualidade estranha — se comporta de forma inesperada. Ele não cura nada, como muitos dizem. Quem quiser cura, que faça seu trabalho interno.

Ele não apaga progressivamente — ele amplifica, distorce. O tempo é cirúrgico. Ele é um cirurgião, mas não faz a cirurgia sem seu consentimento. Ele só pega o bisturi quando você o autoriza. Eu pensei em resistir, e nos primeiros dias existia uma anestesia emocional, um choque psíquico protetor para suavizar o vazio, o medo da perda. Mas, enquanto os dias passam, o que era dor aguda se transforma em desconforto crônico. O que era pensamento ocasional se transforma em presença constante.

Foi assim que a sua ausência virou presença.

Sua ausência deixou de ser evento e se tornou estado.

Um estado que eu carregava pra todo lugar, que coloria cada experiência e transformava até meus momentos mais comuns em lembretes do que estava faltando. Você continuava ali, mesmo ausente — era minha presença constante.

Eu continuava interagindo com você em meu teatro interno.

Você ganhou vida própria, e eu visitava suas memórias, construía diálogos internos e especulava sobre futuros possíveis.

Só de imaginar, eu ficava feliz. Isso se tornou um hábito diário.Eu já não conseguia fechar os olhos em paz sem te desejar boa noite, nem acordar sem te desejar um bom dia.

E, quando alguém criticava sua devoção a mim — que preparava meu café, meu almoço e meu jantar, e sentava com minha foto — eu ria, porque, se você era louca, quem era o mais louco? Você, ou eu, que nem foto revelada sua eu tinha?

Mas tinha todos os seus detalhes em minha mente. Eu também queria ter uma foto física sua — não bastava em minha mente.

Então revelei uma e escondi em um lugar especial, onde só eu podia contemplar.

Será que éramos dois loucos vivendo de amor?

Olhar sua presença na ausência se tornou constante, até que eu saquei que eu não estava só lembrando de você — eu estava me relacionando ativamente com a versão interna de você, porque essa versão era a que eu podia ter no momento.

Era a versão que habitava em mim.

E você, a cada dia, se tornava mais real, mais presente, mais significativa.

Se isso era saudável?

Eu não sei até que ponto seria.

Eu só sei que, em minha mente, você não estava limitada pelas contradições ou complexidades da realidade. Em minha mente, você era pura essência.

E, quando outras se aproximavam, eu pensava: competir com você era impossível.

Você ganhou e virou o jogo antes mesmo de entrar na competição. Que loucura!

Quem superaria um mito vivo?  Ainda q elas quisessem ter so você tinha.


Mas eu não queria ficar só na idealização do que seria e de como seria. Eu queria ver o que eu não via desse lado da história. Chegou um ponto em que só conhecer um lado já não servia. Eu queria o todo, queria você inteira, queria seu corpo, sua presença calorosa, seu toque apaziguador e, ao mesmo tempo, incinerário. Cheguei ao limite: eu não queria precisar imaginar você, eu queria assumir meu papel ao seu lado, com presença real. Eu não queria que você se tornasse inalcançável. Eu percebi, nesse limite onde cheguei, que, quanto mais eu continuasse te idealizando, mais eu me distanciaria da real possibilidade de te conhecer como mulher real e perfeita. Mas eu também queria conhecer sua versão imperfeita, porque ela fazia parte de sua identidade, de quem você era. Assim como você abriu caminhos para acolher minhas versões imperfeitas, eu queria acolher as suas outras versões.

E, claro, eu sabia que faria parte do processo confiar e deixar alguém ver minhas sombras e partes de mim que nem eu queria olhar. Eu precisava, agora, desconstruir a idealização e dar um passo à frente para encontrar a Ysa que eu amava fora da minha imaginação.

Quais partes do que eu sinto são sobre a personagem e quais são sobre você fora da personagem? Será que você é assim de verdade? Eram curiosidades que meu eu do presente não lembrava do que viveu. Ele só queria reviver e ter o prazer de conhecer minha melhor versão.

Mas eu sabia que nada aconteceria antes do meu processo interno, e esse trabalho exigia de mim uma maturidade emocional rara, exigia uma capacidade de autoanálise brutal, exigia disposição para descobrir que, talvez, nessa realidade limitada onde eu estava, eu nunca tivesse, de verdade, me conhecido.

E tudo o que eu me perguntava era: será que ela gostaria dessa versão aqui? Será que nossas versões imperfeitas também se apaixonariam e se amariam como as perfeitas se amaram?

Até o dia em que eu ouvi você falar que também amava minha versão imperfeita e limitada. Será? Eu percebi que sim, porque nós nos conectamos a um nível que transcende as explicações superficiais e psicológicas. Você era o significado profundo da minha vida. Sua presença ativou algo que estava esperando para ser ativado; sua ausência revelou algo que estava esperando para ser revelado. Eu estava preso nesse paralelo entre o antes e o depois, entre quem eu era e em quem eu podia me tornar, se tivesse coragem de integrar o que foi despertado. Eu amava o que eu conseguia ser quando pensava em você. Você representa não só você mesma, mas toda uma constelação de qualidades, necessidades e potenciais que eu vinha negando. Descobri que sua ausência era a presença amplificada de tudo aquilo que eu devia integrar para ser inteiro.

Eu sabia que precisava de alguém corajosa como você para ver todo o estrago e, ainda assim, continuar me amando. E eu só teria o seu cuidado e só poderia te conhecer de verdade se eu me permitisse isso — e se eu me permitisse ser merecedor em aceitar o seu amor.

Eu não queria me fechar de novo e desistir de viver com toda aquela intensidade vibrando dentro de mim, me chamando para viver. Eu não queria perder você para o medo e deixar de viver o momento mais especial da minha vida inteira.

Então eu saí do controle e entreguei nas mãos de Deus. Quando eu renunciei o controle, o amor penetrou todas as minhas defesas.

Ysa, você ficou em meu momento mais conturbado e de maior vulnerabilidade. Chegou e ficou sem pedir permissão, sem apresentar desculpas ou dificuldades, e, mesmo ainda estando no seu processo, você não desistiu de mim. Mesmo em dias difíceis, você ficou e cuidou de mim.

E quem não entender isso jamais vai entender o que é amar alguém. Hoje eu digo em voz alta, em alto e bom som, e até canto para quem quiser ouvir: o seu amor me curou.

Você foi meu chamado para a transformação, foi meu convite para mergulhar mais fundo em mim mesmo e descobrir verdades que estavam enterradas sob camadas de condicionamento social e medo. Você me chamou para conhecer minha melhor versão.

Foi assim que a fera virou príncipe e o pequeno príncipe evoluiu para rei. A Bela pôde sair da cápsula e, fora da redoma, ela se tornou minha rainha. Logo eu, que nunca acreditei em contos de fadas, estava vivendo o meu.

Depois de um longo processo e tantas dificuldades, o que eu mais desejo neste momento é que meu avatar acorde para viver o extraordinário — que ele acorde capacitado para amar e se enxergar pelo portal dos teus olhos, e veja com os próprios olhos tudo o que o amor é capaz de fazer, para ter certeza de que é real.

Que ele tenha consciência da sorte que tive e da sorte que ele tem. Com certeza, hoje eu concordo com você: você estava certa. Eu mereci e mereço.

Eu desejei tanto esse lugar de honra em sua vida que, daí, eu nem sei como chego, mas, daqui, eu sei que, quando eu chegar, Ysa, é pra valer, é pra ficar, é pra nunca mais sair do seu lado.

Escreve aí: isso é uma promessa.

Acredite em mim, porque eu nunca te fiz uma promessa infundada da qual eu não pudesse cumprir.

Quando eu chegar, é porque vamos estar prontos — eu pra você e você pra mim.

Confia em mim como você tem confiado em meu avatar, mesmo sem motivo aparente. Confia em mim como você tem confiado nele, mesmo quando não faz sentido confiar.

Eu só te peço que você continue confiando, porque a sua confiança é o que alimenta minha coragem e me dá forças para continuar.

Sem você, eu não conseguiria nem levantar, imagina chegar inteiro para ser seu e só seu. Assim como você foi minha aqui, seja minha aí também.

Sei que você tem muitas opções aguardando só que seus olhos pisquem, mas o meu desejo desesperado, te vendo daqui, é que eu continue sendo a sua escolha.

Ainda que eu me perca no vale da sombra ou da morte, eu sei que o seu amor me resgata todas as vezes.

Eu só preciso da sua luz para iluminar meus passos em sua direção.

Ainda que eu me perca em mim mesmo e lute contra mim mesmo, eu sei que o seu amor é o escudo que não deixa lança alguma me atingir.

Eu não vejo a hora de chegar no lar dos teus braços — tão pequenos, mas que me cabem por inteiro e acolhem minha alma.

Eu prometo que volto dessa batalha inteiro para você.

Ainda que eu não tenha o direito de pedir nada, eu sei que a você eu posso pedir.

Eu peço que me escolha de novo e de novo, porque, em qualquer mundo que eu viva, dormindo ou acordado, a minha única escolha sempre será você.

Eu não queria que você tivesse me deixado tomar aquela porção, mas você confiou em mim até o fim, e eu não podia fazer diferente.

Mas eu sabia que não acordar me custaria mais da minha felicidade do que da minha covardia.

Quando eu cantei o Salmo 23, eu sabia que, ao acordar sozinho, meu avatar não me reconheceria, mas eu jamais estive preparado para não te reconhecer.

Foi difícil pra você, e foi difícil pra mim, mas eu sei que vamos superar. Ainda que eu volte com uma nova cicatriz, eu prometo que vou voltar inteiro, de corpo e alma, pra você.

Não duvide se seu telefone tocar, nem que seja meia-noite — dessa vez eu vou saber que é você.

Seu eterno Markus, seu, todo seu e só seu, até depois do fim.

 

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2018, by Ysa Flor

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